A questão não são as casinhas de cachorro instaladas na calçada no bairro Jardim do Salso, mas sim a jurisprudência. É bonito ver as pessoas cuidando dos bichos, dando a eles proteção, comida e carinho. Só que a calçada não é lugar para isso. A cidade é um espaço compartilhado e que precisa de regras para funcionar. Calçadas são espaços públicos e para que cumpram com a sua função não podem ser privatizados para qualquer uso além dos autorizados de forma clara pela lei. E a prefeitura é quem cuida disso, com seu código de condutas e regramentos específicos.
Merecem aplauso o gesto da moradora que colocou lá as casinhas e a iniciativa do colunista Paulo Germano, que abriu espaço para o debate da questão. Mas imaginemos o que aconteceria com a já bagunçada Porto Alegre se o precedente inspirasse outras pessoas. Nem me refiro aqui aos moradores de rua, que têm por parte da população, muitas vezes, menos tolerância do que as casinhas de cachorro e seus simpáticos inquilinos de quatro patas. Se a moda pega, em breve não haverá mais calçadas. É aquele velho embate entre o gesto individual e o funcionamento do todo.
Por isso, o gesto da prefeitura, quando mandou retirar as três casinhas, pode até ser qualificado como antipático. Mas é absolutamente legal e correto, levando-se em conta a lei e o interesse público. Sei que meia dúzia de aproveitadoras da causa animal, que juram amor aos bichos e, em nome disso, agridem os seres humanos, condenarão todos os que pensam diferente delas ao inferno. É justamente esse o problema. O debate sobre o uso do espaço público precisa de mais razão e de menos demagogia.