Ainda é cedo para saber quanto tempo Michel Temer ficará na cadeia, mas é legítimo ponderar que a prisão preventiva tem um objetivo concreto: avisar ao ex-presidente que a situação dele, do ponto de vista legal, é gravíssima.
A delação premiada se transforma, nesse contexto, em uma boia ao alcance das mãos – e da língua. Difícil imaginar o que aconteceria se, para salvar o próprio pescoço, Temer contasse tudo o que sabe. O ex-presidente tem 40 anos de vida pública, não como coadjuvante, mas na condição de protagonista. Ocupou alguns dos cargos mais importantes da República e viu o que poucos mortais viram enquanto transitava pelos bastidores do poder.
Muitos dos personagens que entrelaçaram seus destinos empresariais e políticos com Temer já estão na cadeia ou sendo processados. É a desvantagem de ser preso depois dos outros. Temer está no topo da pirâmide e sobram poucos para entregar. Mas é certo que existem outros esquemas e outros nomes até agora fora dos holofotes. Mesmo com as inevitáveis turbulências, a faxina continua sendo a melhor opção de futuro.
Um dos empresários mais poderosos do país, Marcelo Odebrecht debochou da delação premiada ao ser preso. Achou que sairia logo. Ficou mais de dois anos na cadeia e só saiu depois de contar tudo o que sabia.
A prisão de Michel Temer pode ser o começo de um novo capítulo da Lava-Jato. Ou o fim pirotécnico da operação que mudou o Brasil. Temer tem relações muito boas com o Judiciário, especialmente com ministros do Supremo e esse pode ser um dos alvos a ser buscados pelo Ministério Público. Os próximos movimentos do MP, do Judiciário e do próprio Michel Temer dirão.