Durante oito anos, apresentei um programa de entrevistas da TVCOM. O Estúdio 36, inaugurado por Lauro Quadros, trazia, de segunda a sexta, três entrevistas por dia, além de uma atração musical ao vivo. Mais ou menos 15 anos atrás, a produção trouxe ao estúdio o Padre Quevedo, jesuíta de origem espanhola que morreu hoje, aos 88 anos.
Quevedo ficou famoso quando começou, no Fantástico, a apresentar um quadro. Todos os domingos, o religioso, com sua voz forte e inflamada, desmascarava mitos relacionados à crendices populares e ao curandeirismo.
Naquele noite, no começo dos anos 2000, entrou calmamente no estúdio. Nos cumprimentamos no intervalo e iniciamos aquela conversa quebra-gelo. Quando o programa voltou ao ar, alguns minutos depois, o Padre Quevedo se transformou. Veias do pescoço saltadas, começou a vociferar contra "gnomos, bruxas, duendes" e outras criaturas, de acordo com ele, imaginárias. "Esto no ecsiste", berrava com seu marcado sotaque espanhol.
A mudança brusca na atitude do entrevistado me pegou de surpresa. Me assustei, pelo jeito, visivelmente. Porque quando a entrevista acabou e fomos novamente para os comerciais, o Padre Quevedo suspirou e, em cinco segundos, voltou ao normal. Antes de se levantar, me olhou e disse, calmamente:
—No te assustes. Eu grito porque é preciso despertar as pessoas.
Hoje entendo, mais do que nunca, o Padre Quevedo. É preciso despertar as pessoas. Antes que os gnomos, os duendes e as bruxas nos induzam ao conforto da anestesia.