As polêmicas mais difíceis são aquelas em que todos têm razão. É o caso da promoção do filho do vice-presidente, que teve seu salário triplicado no Banco do Brasil na primeira semana do novo governo.
Funcionário de carreira, certamente é um servidor competente, honesto e merecedor de reconhecimento. Acredito também que já tenha sofrido perseguições políticas, ainda mais depois que o pai assumiu a liderança, no meio militar, da crítica ao governo do PT. Antônio Hamilton Rossel Mourão seria o nome ideal para a promoção no Banco do Brasil, não fosse o fato de ser quem é.
Por isso, afirmo que todos têm razão. O banco, que o promoveu, o vice, que defendeu o filho, e o filho, que aceitou a promoção. Só que os críticos também têm razão. E nessa hierarquia das razões, o parentesco com uma das mais importantes autoridades da República tem peso marcadamente superior. Ainda mais sendo o BB uma empresa pública. Se fosse na iniciativa privada, já seria questionável.
São os ônus do poder, que tantos bônus têm. Parentes de agentes públicos em posição de destaque estão sob constante observação e sofrem restrições que parecem injustas, mas são necessárias. Ainda mais no governo Bolsonaro, eleito na esteira de um tsunami de corrupção e favorecimentos revelado pela Lava-Jato. Não há qualquer surpresa com a hipervigilância. Tudo será olhado com lupa e, em muitos casos, com má vontade.
Por isso, quando a fronteira é difícil de identificar, melhor ficar longe dela. Não por Mourão, por seu filho ou pelo Banco do Brasil. Nesse caso, a árvore pouco importa. É preciso olhar para a floresta – que, nesse caso, pode também ser chamada de selva.