Porto Alegre é a cidade dos heróis sem cabeça. Sobreviventes de guerras campais e disputas políticas ao longo dos últimos duzentos anos, acabaram decapitados pelo vandalismo do século 21.
Dos 36 bustos expostos em parques e praças da Capital, 14 sofreram algum tipo de avaria, que incluem danos como pichação, depredação ou desapareçam por completo. Duas das oito cabeças, sumiram. Não sobrou nem um pedaço da orelha ou o queixo que fosse para contar a história. Mais recente vítima, o busto de Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, levou fortes golpes na nuca e sentiu o pescoço estalar às vésperas do Natal. Sobreviveu por pouco, salvo pelas câmeras do Centro Integrado de Comando e pela polícia.
De hoje até o final de semana, o Informe Especial conta as histórias de alguns desses notáveis que perderam a cabeça, mas não a memória.
Sem moleira, de gravata
A cabeça se foi, ficou a gravata. Do busto de Alberto Bins, inaugurado em 1959, no Parque Farroupilha, não sobrou muito. A obra original, assinada por Antônio Caringi – homenagem ao primeiro porto-alegrense a assumir a prefeitura da capital, em 1928 – foi levada por ladrões.
Sem um molde de gesso ou qualquer cópia da peça, Luiz Henrique Mayer esculpiu, em 2016, um novo busto. Uma placa em granito foi construída para recuperar os dizeres originais. Dessa vez, o material usado foi fundição em resina e pó de bronze. A esperança era de que o material, menos valioso, não interessasse aos vândalos. Não durou dois anos. Resta agora a herma de bronze, muito pesada para ser levada.
Pedra sobre pedra
Também no Parque Farroupilha, o busto em homenagem ao professor Luiz Englert, engenheiro civil e mineralogista, teve destino parecido. Inaugurada em 1939, a pedido de uma comissão de ex-alunos e admiradores, foi sendo levada em partes. Depois do roubo da placa de bronze, a prefeitura optou por substituir a peça original, esculpida pelo espanhol André Arjonas, por uma cópia feita de resina plástica e pó de bronze – que também foi furtada.