Jamais contrate quem você não pode demitir. A frase virou clichê, mas não perdeu o brilho. Aplicada normalmente à iniciativa privada, a afirmação também conversa com o setor público. Bolsonaro já conta, em seu círculo mais próximo, com pelo menos seis intocáveis: Sergio Moro e Paulo Guedes no Ministério. Além deles, tem um vice com voz forte e três filhos atuantes e posicionados nas redes sociais.
Não é incomum que governos tenham mais dificuldade para administrar o fogo amigo do que o bombardeio da oposição. É normal e esperado que o PT e o PSOL estabeleçam um enfrentamento sem trégua. Mas quando o nó é dado de dentro para fora, não basta apontar o dedo e gritar. É preciso gerir, com calma e frieza. Mais ainda quando o dano não é intencional. Gol contra quase nunca é de propósito.
Na campanha e na transição, alguns exemplos já espocaram.Um vídeo do filho Eduardo dizendo que basta "um cabo e um soldado" para fechar o STF é dos mais emblemáticos. Mas teve também a "prensa" de Paulo Guedes no Congresso e a constituinte de notáveis de Mourão. Tudo isso exigiu correções - algumas mais suaves, outras nem tanto - de Jair Bolsonaro.
O mandato ainda nem começou, é verdade. Há uma curva de aprendizado e talvez os tropeços iniciais tenham servido de lição. O limite entre a pluralidade de ideias em um governo e a sua unidade é tênue. Bolsonaro domina como poucos o exercício da autoridade e da hierarquia. Vai precisar temperá-las com muito jogo de cintura político para conviver bem com suas próprias escolhas.