Os slogans escolhidos pelos candidatos no primeiro turno bastariam para entender tudo. Duas frases que sintetizam o zeitgeist dessa eleição. Vamos a elas:
Para o Brasil ser feliz de novo (Haddad):
Então faz de conta que a vitória de um candidato a presidente vai trazer a felicidade de volta. Não preciso fazer mais nada: trabalhar, cumprir a lei, apoiar alguma causa. Lula na cadeia e Haddad no Planalto nos levarão à Terra Prometida, sem perambular 40 anos no deserto. O slogan é paternalista, manipulativo e errado. O Brasil de hoje é muito diferente do Brasil do começo do século, quando o PT chegou ao poder. Lula teve a chance de elevar o país a um outro patamar. Em vez disso, optou por abraçar a podridão do sistema e, abraçado a ela, foi ao fundo. Não, a vitória de Haddad não fará o Brasil feliz de novo. Vai ser bem mais trabalhoso do que isso.
Agora, o PT mudou a estratégia. "Brasil para todos" é o novo mantra. Mudou não pela inconsistência do slogan, mas para tentar descolar Haddad de Lula. A História talvez lembre: foi uma promessa impossível que levou o partido ao segundo turno.
O Brasil acima de tudo (Bolsonaro):
Uma premissa: não vou discutir a segunda parte, que é "Deus acima de todos". É uma questão de fé. Mas a primeira parte me causa arrepios. Como assim o Brasil acima de tudo? Um país não pode estar acima de tudo. Há coisas e valores mais importantes. Além disso, de que Brasil estamos falando? Não existe uma única visão de país. Sempre que alguém tentou se apoderar desse significado e impor um conjunto de visões e valores como sendo o único legítimo, muito sangue foi derramado. A construção de uma Nação não é um fim por si só. As pessoas são mais importantes e a soma das diferenças e das identidades é que gera algo, não o algo que determina o resto.
Slogan por slogan, prefiro um terceiro: "Parece remédio, mas não é". Foi criado para uma loção anticaspa, chamada Denorex.