Ouvi entrevistas e programas na TV de Jair Bolsonaro e de Fernando Haddad durante o final de semana. Aleluia! Haddad falou sobre a corrupção nas estatais, no sábado (13). Na periferia de São Paulo, o candidato do PT reconheceu que os diretores de algumas estatais ficaram "soltos", sem fiscalização nos governos petistas. Na mesma levada, Haddad se mostrou indignado por eles terem "pessoalmente" enriquecido.
O que Haddad não disse: ficar sem fiscalização na Petrobras, há décadas, não era um descuido. Era uma estratégia. Muita gente sabia. Paulo Francis já sabia. Esperava-se que o PT, eleito com um discurso de ética e de combate à roubalheira, fosse mexer no sistema. Mexeu, mas para torná-lo ainda mais corrupto e com menos fiscalização. Agora, depois que a casa caiu, o diagnóstico velho é apresentado como novidade.
Haddad também condenou o enriquecimento "pessoal" dos diretores. Faltou dizer que roubar para um partido, para fazer campanha eleitoral ou para uma causa, é igualmente roubo. Procurei a mesma entrevista em vários meios, não encontrei essa parte da resposta.
Foi um meia mea-culpa. Conclusão: o PT está mais ou menos grávido.
Jair Bolsonaro revelou, também em uma entrevista, o que fará — ou não — em relação aos debates. Caso os médicos o autorizem a participar, definirá qual a "melhor estratégia", que se resume a uma questão binária. Ir ou não ir. Participar de debates eleitorais não é legalmente obrigatório, mas moralmente, sim. Um postulante ao cargo mais relevante da Nação não pode se esconder. Até poderia selecionar quais debates e quantos, porque o enfrentamento direto, em geral, é uma oportunidade potencialmente mais benéfica para quem está atrás na corrida. Mas nenhum? Sob que argumento? Bolsonaro diz que Haddad é o fantoche de Lula. Ok. Mas ele é legalmente candidato. Viva a lei. Ou não?
Outra frase de Bolsonaro, pronunciada no contexto do combate à criminalidade, mas bem mais abrangente.
— A gente só respeita o que teme — declarou.
A afirmação revela uma visão de mundo. Respeito-a, mas, sem medo, discordo. Respeito e medo são incompatíveis. Ou se tem um, ou se tem o outro. Respeito é o oposto de medo, embora algumas vezes se confundam. Respeito é um sentimento positivo, baseado no reconhecimento das qualidades de alguém ou de algo. Medo é um estado de alerta, instigado pela perspectiva de punição, de dor ou de ameaça. A frase correta seria:
— A gente só tem medo do que tem medo.
E, assim, o redesenho do Brasil vai ganhando seus contornos. Sem debates, com meias palavras, cheio de sombras.