O estresse dos pais com a eleição está impactando os filhos e as escolas da Capital. Professora de psicologia da Universidade La Salle, Marina Ortolan Araldi ressalta o papel da família para ajudar a preservar as crianças.
– O ideal é que elas não fiquem de fora do que está sendo conversado com os adultos, mas tudo é questão de medida – afirma.
Marina explica que, quando as crianças veem os pais estressados, em um cenário de bem contra um mal, elas ficam ansiosas e sob um constante estado de alerta.
A polarização da campanha eleitoral deste ano tem trazido um desafio a mais para os professores e diretores de escolas: promover o debate entre os alunos sem levar para dentro da sala de aula o estresse que vem de casa e o extremismo das redes sociais.
Na esfera privada, o Colégio Anchieta, o Marista Rosário e o Farroupilha, que estão entre os mais tradicionais de Porto Alegre, adotaram diretrizes semelhantes para tratar do tema. Debates sobre urna eletrônica, democracia, Constituição e Direitos Humanos são estimulados. Mas o uso de adesivos, broches e bandeiras de candidatos não deve passar da portaria.
A lição é evitar que o debate sobre política se transforme em eventuais disputas partidárias. Os professores são orientados a mediar o debate, mostrando que opiniões diferentes precisam ser respeitadas.
O acirramento da visão política dos pais tem impactado até os mais novos. Antes restrita aos estudantes do Ensino Médio, a campanha eleitoral agora também é assunto de recreio entre as crianças do Ensino Fundamental.
– A gente percebe que essa polarização tem deixado as crianças e os adolescentes mais ansiosos. Criou-se um clima de medo sobre o que pode acontecer caso o candidato do partido adversário vença. Uns acham que o Brasil vai virar a Venezuela outros que vai ser implantada uma ditadura – , conta a orientadora pedagógica do Colégio Marista Rosário, Suzana Diemer.
Em relação aos colégios públicos, a Secretaria Estadual da Educação explica que eles possuem autonomia pedagógica, mas, assim como nos privados, as normas de civilidade e de convivência democrática devem ser respeitadas em sala de aula.
Algumas iniciativas
No Colégio Marista Rosário, a campanha eleitoral tem sido debatida em diversas disciplinas. Na aula de produção textual, os alunos de Ensino Médio têm sido estimulados a refletir sobre o cenário atual, discutindo temas como importância do voto e democracia.
No Colégio Farroupilha, a estratégia é semelhante: os conteúdos que envolvem temas de posicionamento político também têm sido colocados em discussão, mas sem a adoção de uma preferência.
Em um projeto desenvolvido recentemente nas turmas de Educação Infantil, as crianças puderam escolher, entre os colegas, o prefeito da Minicidade.
No Colégio Anchieta, alunos do terceiro ano participaram de um projeto de cidadania, em que foram estimulados a construir cartazes com propostas para o país.
Em uma eleição simulada, as crianças entram em uma cabine de votação para fazer a escolha. Os representantes escolhidos tem reuniões uma vez por mês para planejar e implementar as ações prometidas durante o ano.