Se quiser aprovar o mais importante projeto do seu governo, Michel Temer só tem uma opção: ir até o cartório mais próximo e registrar o compromisso de não concorrer em outubro. Por mais absurdo que pareça, a possibilidade da candidatura é real. Está ancorada na crença de que a aprovação da reforma da previdência, em conjunto com outras já implementadas, dará ao presidente cacife eleitoral suficiente para sonhar com mais quatro anos no Palácio do Planalto. Mesmo que o bom senso e as pesquisas mostrem a total inviabilidade desse delírio, a visão de agentes políticos continua, através dos tempos, turvada pelos efeitos de uma droga fulminante chamada poder.
O devaneio da candidatura de Temer, percebe-se pelos movimentos mais recentes, saiu de um círculo íntimo de Brasília e chegou a ouvidos mais distantes. O jogo político é implacável e nem sempre sutil. Se a reforma da Previdência dará a Temer capital político, é preciso impedir que isso aconteça. Só assim se explicam, por exemplo, as resistências de amplos setores do PSDB a uma reforma óbvia e necessária, embora seja importante debater seus limites e efeitos.
Antes de assumir, Temer comprometeu-se a não se candidatar em 2018. Sua promessa era a de jamais utilizar eventuais perdas e ganhos das reformas para disputar o cargo ao qual chegou sem ser eleito. Por isso, é fundamental que reafirme de forma clara, pública e direta esse compromisso. Sem ele, seu naufrágio será ainda mais rápido e definitivo.