No próximo domingo (22), o Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, vai receber um show que fará o público voltar no tempo — e nessa viagem é possível que muita gente (incluindo eu!) tenha de desenferrujar o corpo. É que o convite à dança será irresistível na última apresentação brasileira da turnê que reúne Information Society, Kon Kan e Double You, artistas que viveram o auge do sucesso entre o final dos anos 1980 e o início da década de 1990.
Batizada de "Reviva os Anos 80 e 90 com os Gigantes da Dance Music", a turnê começou no dia 12 de dezembro, em Belo Horizonte, e incluiu escalas no Rio, em Ribeirão Preto (SP), em São Paulo, em Brasília e em Goiânia. Cada nome fará um show próprio no palco do Araújo Vianna, a partir das 20h. Os ingressos custam entre R$ 540 e R$ 760 e estão à venda no site Sympla, com desconto de 50% para sócio titular e acompanhante do Clube do Assinante (para conferir mais informações, acesse gzh.digital/insoc).
O carro-chefe é o Information Society, formado por Kurt Harland (vocal), Paul Robb (sintetizadores) e James Cassidy (baixo e teclados). O trio estadunidense nasceu em St. Paul, no Minnesota, e teve como seu primeiro grande hit What's On Your Mind (Pure Energy). Lançada em 1988, a música traz um sample em que Spock, o personagem interpretado por Leonard Nimoy na série Jornada nas Estrelas, diz "pure energy". Outros êxitos nas pistas são Running (1985), Walking Away (1988), Think (1990) e Peace & Love, Inc. (1992), um petardo que resistiu muito bem à passagem de tempo — continua com frescor e uma energia contagiante. A letra, por sua vez, segue bastante atual, ao falar da mercantilização da felicidade, por exemplo, ou da supervalorização e da fabricação do politicamente correto.
Essas cinco músicas devem ser tocadas em Porto Alegre, a julgar pelo setlist do show no Rio, que incluiu covers de Dominion/Mother Russia (The Sisters of Mercy) e Don't You Want Me (The Human League) e fechou com a balada Repetition (1988), que acompanhou muita fossa amorosa e muitas reconciliações: "The time I spend alone has nothing to give / The life I lead alone has nowhere to live / It's repetition / I'm coming back to you / Repetition / The only thing I can do".
Definitivamente o menos célebre entre as três atrações, o Kon Kan é um projeto do canadense Barry Harris surgido em 1988, em Toronto. Entre os destaques da carreira, estão Harry Houdini (1988) e Liberty (1990), mas talvez a única música realmente conhecida seja I Beg Your Pardon (1988). Tem uma introdução arrasadora e uma coleção incrível de samples, a começar por (I Never Promised You a) Rose Garden (1971), da cantora country estadunidense Lynn Anderson, Get Up and Boogie (1976), do grupo alemão de disco music Silver Convention e o tema que Elmer Bernstein compôs para o faroeste Sete Homens e um Destino (1960).
Personalizado na figura do vocalista William Naraine — o nome, aliás, é uma referência à letra W —, o Double You vem de La Spezia, na Itália, mas canta em inglês e tem muita ligação com o Brasil. O grupo visitou o país pela primeira vez em 1993, já dedicou um disco aos fãs daqui e tem na formação um músico e produtor brasileiro, Gino Martini. Mais de 10 canções apareceram em novelas da Globo, como Looking at my Girl (em Mulheres de Areia, de 1993), She's Beautiful (Pátria Minha, de 1994) e Gonna Be my Baby (Vira Lata, de 1996), mas confesso que não lembrava ou nunca tinha escutado nenhuma dessas.
O Double You especializou-se em covers. We All Need Love (1992) é a versão de uma (deliciosa) canção de 1979 do canadense Domenic Troiano. Who's Fooling Who (1992) moderniza faixa de 1982 da banda estadunidense One Way. With Or Without You (1992) acelera — ou assassina, você decide — a balada de 1987 do U2, da mesma forma com que Heart of Glass (1994) espatifa o clássico de 1979 do Blondie.
Seu grande sucesso, presente nas novelas globais Despedida de Solteiro (1992) e Verão 90 (2019), é Please Don't Go (1992), cover da música lançada em 1979 pela banda de disco music e funk KC and the Sunshine Band. Na versão do Double You, o que era uma balada para dançar coladinho transformou-se em um racha-assoalho que serve de síntese da era de ouro do chamado eurodance. Certamente será outro momento apoteótico do show deste domingo no Araújo Vianna.
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