Dois dos principais candidatos ao Oscar 2024, Assassinos da Lua das Flores e Oppenheimer já podem ser vistos em casa — por enquanto, apenas nas plataformas digitais de aluguel (confira quais logo abaixo), com preços que variam de R$ 49,90 a R$ 69,90. Mas os dois filmes valem cada centavo, especialmente se você tem uma tela grande e um sofá confortável, pode aumentar bem o volume e, sobretudo, está disposto a deixar o celular desligado e evitar qualquer tipo de distração por pelo menos três horas — ou quase seis horas e meia, se resolver fazer uma sessão dupla. O objetivo é tentar simular, na sala de estar, a experiência imersiva da sala de cinema.
Por falar nisso, no termômetro da popularidade, Oppenheimer está bem à frente: arrecadou mais de US$ 950 milhões nas bilheterias; Assassinos da Lua das Flores, que estreou em 19 de outubro, ainda nem superou os R$ 155 milhões.
Os dois longas-metragens baseados em histórias reais já travaram duelo em uma das mais prestigiadas premiações prévias na corrida pelo Oscar — que terá seus indicados anunciados pela Academia de Hollywood em 23 de janeiro (a cerimônia de entrega será em 10 de março). No final de novembro, a New York Film Critics Circle (NYFCC), a associação de críticos nova-iorquinos, laureou Assassinos da Lua das Flores como o melhor filme de 2023 e consagrou Lily Gladstone na categoria de atriz. Foi a terceira vitória de um título dirigido por Martin Scorsese — os primeiros haviam sido Os Bons Companheiros (1990) e O Irlandês (2019). No Oscar, Scorsese soma 14 indicações, como produtor, diretor ou roteirista, com somente um triunfo, o de diretor, por Os Infiltrados (2006).
Oppenheimer também recebeu dois prêmios da NYFCC. Christopher Nolan ganhou como melhor diretor — seu nome, indicado só uma vez ao Oscar da categoria, por Dunkirk (2017), vem despontando como favorito nas bolsas de apostas —, e Hoyte van Hoytema faturou o de fotografia. O curioso é que os dois protagonistas, Leonardo DiCaprio (Assassinos da Lua das Flores) e Cillian Murphy (Oppenheimer), acabaram preteridos em favor de Franz Rogowski, de Passagens.
Onde ver "Assassinos da Lua das Flores"
Assassinos da Lua das Flores está disponível para aluguel desde esta terça-feira (5) no Amazon Prime Video, por R$ 49,90, e no Google Play, por R$ 69,90. Pela primeira vez em um longa-metragem, depois do curta The Audition (2015), Martin Scorsese reúne os dois atores com quem mais trabalhou. É a 10ª colaboração de Robert De Niro, que deu início à longeva parceria há 50 anos, com Caminhos Perigosos. E a sexta de Leonardo DiCaprio, que contracenara com De Niro há 30 anos, em O Despertar de um Homem (1993), de Michael Caton-Jones. Só por esse encontro Killers of the Flower Moon já seria um dos eventos cinematográficos da temporada. Mas há muitos outros atrativos nas três horas e 26 minutos deste filme escrito por Scorsese e Eric Roth a partir do homônimo livro-reportagem de David Grann.
A exemplo de Os Bons Companheiros, Cassino, Gangues de Nova York, Os Infiltrados e O Irlandês, trata-se de um policial que permite traçar um painel histórico dos Estados Unidos e examinar a violência endêmica de sua sociedade. Em foco, desta vez, estão a ganância e o racismo que levaram homens brancos a exterminar indígenas Osage, no Estado do Oklahoma, na década de 1920 — a investigação das mortes ajudou a consolidar o FBI, a polícia federal estadunidense, que tinha surgido naqueles tempos. Esse povo nativo tinha sido expulso de suas terras para uma região rochosa e infértil, mas eles acabaram descobrindo petróleo (como Scorsese reconstitui com seu característico uso da câmera lenta) e enriquecendo (como o diretor mostra mimetizando os cinejornais daquela época). Os Osage ousaram prosperar, despertando o ódio e a cobiça, como aconteceu com a rica comunidade negra de Tulsa, no mesmo Oklahoma, massacrada em 1921 por uma multidão branca (esse episódio também é referido em Assassinos da Lua das Flores).
DiCaprio interpreta Ernest Burkhardt, ex-soldado que é acolhido pelo tio, William Hale (De Niro, em uma atuação monumental), o Rei, um sujeito de duas caras: posa de amigo dos Osage, mas na verdade só está interessado em se apossar da sua fortuna. Ernest vai se casar com uma indígena, Mollie (Lily Gladstone, o coração do filme), mas, como os típicos personagens scorsesianos, viverá sob o tormento, sublinhado pela música de Robbie Robertson. Tem o corpo e a alma cindidos — "Quase amo dinheiro tanto quanto amo minha mulher", admite. Não há mistério sobre para onde a trama vai, e inclusive há um pouco de reiteração na parte que antecede o epílogo — mas esse epílogo, que conta com a participação do próprio diretor, é absolutamente surpreendente. Com um misto de criatividade e autocrítica, Scorsese aponta tanto para a dessensibilização das pessoas perante os crimes que ajudaram a formar o país quanto para a espetacularização da violência.
Onde ver "Oppenheimer"
Oppenheimer foi lançado nas plataformas digitais de aluguel na última semana de novembro — a partir de R$ 49,90, pode ser visto na Apple TV, no Google Play e no YouTube — o filme também aparece no Amazon Prime Video, mas com a informação de que está indisponível no momento, pelo menos até esta terça-feira (5).
Ambição é o que não falta a Christopher Nolan e ao protagonista deste épico com três horas de duração (a maior na carreira do diretor), orçamento de US$ 100 milhões e mais de 70 atores no elenco que reconstitui a turbulenta trajetória do físico estadunidense considerado o pai da bomba atômica: J. Robert Oppenheimer (1906-1967), brilhantemente interpretado pelo irlandês Cillian Murphy, em sua sexta colaboração com o cineasta, depois da trilogia do Batman (2005-2012), de A Origem (2010) e de Dunkirk (2017).
Apesar de ser uma cinebiografia ambientada no passado (com três tempos narrativos, como de costume na filmografia do diretor), Oppenheimer tem a ambição de falar da humanidade como um todo e de dilemas muito contemporâneos. Por um lado, seu protagonista nos lembra como somos complexos e contraditórios: Oppenheimer é egocêntrico, mas também é atormentado por dúvidas e inseguranças (será que a bomba vai trazer a paz — mesmo que pelo medo — que ele imagina?); é um cientista, mas também é um sujeito passional (o que vai render a primeira cena de sexo em um filme de Nolan); é um gênio, mas também é ingênuo ("Como esse homem que viu tanta coisa pôde ser tão cego?", afirma um personagem). Por outro lado, o cineasta disse esperar que seu filme sirva de alerta para as empresas de tecnologia: "Quando falo com os principais pesquisadores no campo da inteligência artificial (IA), eles dizem que estão em seu momento Oppenheimer. Eles estão olhando para a história para tentar responder: 'Quais são as responsabilidades dos cientistas que desenvolvem novas tecnologias que podem ter consequências não intencionais?'."