Foi num post da jornalista e apresentadora Renata Boldrini no Instagram que eu descobri: Imersão (Inmersión, 2021), um filmaço chileno ganhador de dois Kikitos no Festival de Gramado do ano passado, está disponível no Amazon Prime Video.
Já escrevi aqui na coluna sobre como o menu da plataforma de streaming não é amigável. Então, é comum que fiquem escondidos (sabe-se lá desde quando e por quanto tempo) tesouros como o primeiro longa-metragem dirigido por Nicolás Postiglione, que, em Gramado, dividiu com Agustin Toscano e Moisés Sepúlveda o prêmio de melhor roteiro na mostra internacional. O outro troféu conquistado foi na categoria de fotografia, para Sergio Armstrong. Mas Imersão merecia mais.
Quando os termômetros nas ruas de Gramado já estavam na casa do 0°C, o filme protagonizado pelo ótimo Alfredo Castro, melhor ator no Festival de Havana por Tony Manero (2008) e astro de O Clube (2015), fez ranger os dentes mesmo dentro do Palácio dos Festivais.O filme de suspense faz jus ao título. Mergulhamos na história de Ricardo, um pai de classe média alta que, de iate, leva as duas filhas — Claudia (Mariela Mignot) e a impetuosa caçula Teresa (Consuelo Carreño) — para conhecer uma degradada casa da família junto a um lago, no sul do Chile.
No meio do passeio, ele vê três jovens, supostamente pescadores de origem indígena, pedindo ajuda porque o barco está afundando. Mas Ricardo, desconfiado, decide ignorá-los — o que vai gerar conflito com Teresa e desencadear uma espiral de situações tensas.
Nesse microcosmo sobre as águas, Imersão encena tanto o choque de gerações quanto o preconceito social. Alfredo Castro faz de seu rosto um cenário à parte, onde exibe a arrogância e o medo das elites. A direção de fotografia de Sergio Armstrong (colaborador assíduo do cineasta Pablo Larraín), a edição coassinada por Postiglione e Valeria Hernández e a trilha sonora composta por Paulo Gallo são fundamentais para a criação de um ambiente sinistro e propenso à paranoia — quem sabe à tragédia.
Sobre a música, o diretor falou em entrevista à revista estadunidense Variety:
— Paulo Gallo é um nome de que você vai querer lembrar. Sua elegância na composição deu ao filme o peso e a sensação geral que eu almejava. Começamos com moods para adicionar tensão através de sons atmosféricos, mas uma vez feito isso, nos aventuramos a misturar tudo com instrumentos indígenas, porque pensamos que isso aumentaria o clima de perigo, enquanto visualizamos personagens "locais" do lago que pareciam ameaçadores. O que a música acaba fazendo, no entanto, é mover lentamente aqueles tambores e trompas indígenas infernais sobre o tema do pai, e com isso nos ajudou a narrar o modo como ele se torna bestial, até selvagem.