Com mais três sessões a serem realizadas em Porto Alegre, duas em Caxias do Sul e uma em Pelotas, O Desafio de Marguerite (Le Théorème de Marguerite, 2023) é um dos filmes do 14º Festival Varilux de Cinema Francês recomendados pelos próprios curadores da mostra (confira datas, salas e horários no fim deste texto).
— A jovem diretora Anna Novion (43 anos) apresenta uma reflexão sutil sobre a busca pela identidade, a resiliência e a capacidade de se reinventar diante do fracasso — disseram Christian Boudier e Emmanuelle Boudier em entrevista à coluna.
O longa-metragem não chega a ser imperdível (a propósito: vai estrear no circuito comercial em 7 de dezembro) e tem um roteiro pouco surpreendente (a não ser por incorrer em um insuspeitado clichê romântico). Mas Ella Rumpf, atriz coadjuvante de Raw (2016), Soul of a Beast (2021) e da série Tokyo Vice (2022), tem ótimo desempenho no papel principal. Trata-se de Marguerite, uma brilhante aluna de Matemática na renomada Escola Normal Superior de Paris. É uma gênia, palavra que não é considerada correta dentro da machista norma culta da língua portuguesa — só reserva a distinção ao masculino, assim como acontece com prodígio. Eu me recuso a usar entre aspas porque essas poderiam emprestar um ar de zombaria, minimizar o conhecimento da personagem, dar um ar fantasioso — mas se existem gênios, já passou da hora de reconhecermos que também existem gênias.
Marguerite está finalizando uma tese que deverá apresentar diante de um público de pesquisadores. Seu tema é a conjetura de Goldbach, que envolve números primos e é um dos mais antigos e famosos problemas matemáticos não resolvidos. No grande dia, um erro abala todas as suas certezas, e então a personagem decide abandonar a faculdade e recomeçar do zero.
Anna Novion fez parte da delegação francesa que veio ao Brasil para divulgar o Festival Varilux. No dia 9, no hotel Fairmont Copacabana, no Rio, a diretora contou à coluna o que há de tão fascinante em personagens da área da matemática:
— Foi Ariane Mézard, uma grande e uma rara mulher na matemática francesa, que me abriu para esse mundo, que eu não conhecia. Ela me fez entender até que ponto os matemáticos convocam o imaginário, esse âmbito da poesia, da abstração. Os matemáticos sempre estão falando de beleza, eles são muito estéticos. As fórmulas, eles olham e acham lindas. Há uma frase do filósofo Gilles Deleuze: o cientista inventa e cria tanto quanto o artista. Graças a Ariane Mézard, eu realmente entendi essa citação.
Por falar em filosofia, a busca de Marguerite remete às grandes questões do ser humano: de onde eu vim, pra onde eu vou, qual o sentido da vida, o que existe depois dela.
— Acho que os matemáticos são pessoas extremamente profundas, e de fato acredito que entre a filosofia e a matemática existem coisas muito próximas — comentou Novion. — A ambição do filme foi principalmente filmar a beleza, mesmo sem entender nada do que os personagens estão calculando e das fórmulas que estão escrevendo. Não entender, no fim das contas, me ajudou, porque assim consegui olhar o que eles estavam fazendo, essas lousas cheias de fórmulas, como se fosse uma obra de arte abstrata, um quadro de Jackson Pollock (pintor estadunidense, 1912-1956). Eu queria homenagear os matemáticos porque eles me tocaram muito. Queria ver até que ponto a matemática pode ser linda e sensual.
Próximas sessões de O Desafio de Marguerite em Porto Alegre: 16/11, às 18h10min, no Cineflix do Shopping Total; 18/11, às 14h, no Espaço Bourbon Country; e 22/11, às 17h15min, na Cinemateca Paulo Amorim. Sessões em Caxias do Sul: 2/12, às 21h35min, e 3/12, às 15h, na Sala Ulysses Geremia. Sessão em Pelotas: 18/11, às 15h, no Cineflix do Shopping Total