Um dos principais filmes do 14º Festival Varilux de Cinema Francês é Making Of (2023), de Cédric Kahn, que está sendo exibido no Brasil antes mesmo de sua estreia comercial no país europeu (veja mais abaixo datas e horários das salas em Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas). Foi esse o título escolhido para ser apresentado na sessão de lançamento da mostra, realizada na noite da quinta-feira (9) na Sociedade Hípica Brasileira, no Rio de Janeiro. Na parte da tarde, o diretor e o ator Stefan Crepon participaram de uma rodada de entrevistas no hotel Fairmont Copacabana.
Kahn, 57 anos, é o cineasta de Vida Selvagem (2014), A Prece (2018) e O Caso Goldman (2023). Em Making Of, que foi lançado fora de competição no Festival de Veneza, em setembro, ele retrata quase todos os desastres que podem acontecer durante as filmagens de um longa-metragem.
Denis Podalydès interpreta Simon, um cineasta veterano que começa a rodar um filme sobre a luta dos trabalhadores para salvar sua fábrica. Já no primeiro dia de filmagem, a sequência da invasão do local pelos operários é prejudicada por uma trapalhada do rapaz que está gravando os bastidores.
O ator principal, encarnado por Jonathan Cohen, faz o papel de um operário solidário, mas no fundo é um sujeito egocêntrico que, por vaidade, procura minar a atuação da atriz Nadia (Souheila Yacoub).
Simon tem seus problemas particulares — o casamento está em ruínas —, mas a grande dor de cabeça é descobrir que seu produtor, Marquez (Xavier Beauvois), apresentou aos financiadores do filme um roteiro com um final bem diferente daquele que escreveu: em vez de ser fiel à história real, foi adocicado à moda hollywoodiana. Por manter sua integridade artística, o diretor acaba ficando sem dinheiro, e logo sua equipe entra em estado de greve.
Entrementes, Joseph (Stefan Crepon), um figurante que trabalha como pizzaiolo, surge em cena e vê uma chance de entrar na indústria cinematográfica ao ser alçado de surpresa à condição de diretor do making of.
Meio comédia, meio drama, Making Of não é um título imperdível no Festival Varilux. Alonga-se mais do que necessário (são quase duas horas de duração), muito por conta de um romance pouco convincente. Mas pinta retratos interessantes dos bastidores do cinema francês e traça paralelos pertinentes com a história que está sendo contada no filme fictício.
Entrevista com Cédric Kahn, diretor de "Making Of"
Em Making Of, o líder dos operários é um personagem solidário que é interpretado por um ator ególatra. E temos um diretor experiente, mas cansado, que acaba formando uma parceria com um jovem aspirante a cineasta com toda a energia possível. Gostaria que você comentasse esse jogo de contradições e espelhamentos do filme.
Todo o filme está construído sobre paradoxos. O maior deles é que o diretor de esquerda, com grandes ideias humanistas e que vem socorrer os operários vítimas do capitalismo, bem, ele mesmo vai ter um comportamento de patrão e explorar seus próprios empregados na filmagem para poder terminar seu objeto capitalista.
No filme, Simon é sabotado por seu produtor, que apresenta aos financiadores um final feliz, diferente do original. Isso acontece na vida real? Você já teve de lidar com pressões semelhantes?
No cinema americano, é claro que há muitas pressões, até na escrita de roteiro. Na França, a gente tem mais proteções, é um sistema onde o diretor tem bastante poder, e o produtor não tem tanto. Mas é preciso ter dinheiro para fazer filmes. Não ocorrem pressões tão frontais, as pessoas não falam "tem de ter um final feliz", mas elas dão a entender, dizem que talvez com um ator mais famoso vai ter mais sucesso. Nunca sofri pressão sobre o final de um filme, mas para deixar mais curto, cuidar com cenas mais complicadas ou que têm um pouco de ambiguidade.
Quais são os aspectos dos bastidores do cinema que mais te atraem?
Mostro no filme uma forma de violência e, às vezes, crueldade, uma loucura coletiva. Cinema é um trabalho coletivo, mas ao mesmo tempo todo mundo quer salvar a sua própria pele. Para mim, o interessante é mostrar que essa profissão tão mitologizada é realizada por seres humanos. Para fabricar filmes há trabalho, suor e conflitos. O ator pode ser lindo numa hora e ficar doente de manhã ou ter problemas com a esposa de tarde. A vida atravessa a arte. O que me fascina é a mistura do sublime com o trivial: caminham juntos na realização de um filme.
Isso é exemplificado na cena de abertura de Making Of, certo? A da reprodução da invasão da fábrica, que acaba atrapalhada pelo diretor do making of.
Sim. O filme está construído nessa ideia do choque. Quando a gente vê a invasão debaixo de chuva é sublime; quando a gente vê a máquina de chuva artificial, aí está o trivial.
Próximas sessões de "Making Of"
Em Porto Alegre: 14/11, às 18h05min, e 22/11, às 16h, no Cineflix do Shopping Total; 17/11, às 16h15min, e 21/11, às 16h45min, no Espaço Bourbon Country; 21/11, às 17h, e 26/11, às 17h, na Cinemateca Paulo Amorim. Sessão em Caxias do Sul: 28/11, às 19h30min, na Sala Ulysses Geremia. Sessões em Pelotas: 17/11, às 16h45min, e 21/11, às 17h15min, no Cineflix do Shopping Pelotas