Nem só de filmes e séries vive o colunista. Nas horas vagas, como um bom fã de comédias românticas, gosto de ver reality shows do tipo Casamento às Cegas, que teve os dois últimos episódios da terceira edição brasileira lançados nesta quarta-feira (21) pela Netflix. (ATENÇÃO: o texto a seguir terá spoilers.)
Acho irresistível a proposta do programa dirigido por Cassia Dian e apresentado pelo casal Camila Queiroz (sempre charmosíssima e geralmente empática com as participantes) e Klebber Toledo (um tanto apagado e costumeiramente genérico nos comentários): 16 mulheres e 16 homens têm pouco mais de um mês para achar sua alma gêmea e casar. O detalhe é que, como diz o título, o pedido precisa ser feito sem que eles se vejam. Nos capítulos iniciais, acompanhamos as conversas e os desabafos dos encontros às escuras. A sintonia pode ser imediata, mas também há participantes que não dão liga com ninguém, assim como alguns acabam atraindo vários pretendentes. Só depois de um pedir a mão da suposta cara-metade é que eles vão se conhecer pessoalmente. E aí, durante um período de convivência que inclui curtir uma espécie de lua de mel antecipada, dividir um apartamento e ser sabatinado por familiares e amigos dos noivos, cinco pares devem decidir se vão dizer sim na hora H — de "Haverá surpresas!".
Pois a grande surpresa dessa terceira temporada foi que rolou o duplo sim nos cinco casais selecionados.
Mas não sem pelo menos um momento de tensão. Que teria sido muito, muito, muito mais forte e duradouro se a Netflix não adotasse a política fast-food, despejando quase todos os seus conteúdos de uma vez só.
Com Casamento às Cegas 3, a plataforma de streaming foi mais comedida, lançando quatro capítulos no dia 7 de junho, outros quatro no dia 14 e os dois finais nesta quarta-feira. O ponto é que do penúltimo para o último houve o que se chama de cliffhanger (em inglês) ou gancho (em bom português). Nas séries ficcionais, é aquela situação praticamente impossível de ser resolvida pelo personagem, ou uma morte inesperada, ou uma revelação bombástica — coisas que acontecem exatamente no derradeiro instante de um episódio, provocando uma curiosidade monstra pelo próximo. Eu gosto quando a gente tem de esperar uma semana, curto o prazer da expectativa e a conversa especulatória com os amigos — e acho educativo e terapêutico precisarmos lidar com a frustração de não ter tudo à mão na mesma hora.
No caso de Casamento às Cegas 3, durou meros minutinhos o impacto causado pelo "a minha resposta final é não" dito por Jarbas Andrade, 31 anos, para Bianca Sessa, 29, no dia do casamento. Puxa, eles formavam um dos casais mais simpáticos, ambos com histórias de vida marcantes — o empresário assumiu como sua a filha de uma garota que estava grávida quando começaram a namorar; a nutricionista, que também é mãe, lidando com as condições de ser uma pessoa com deficiência (PcD), devido a uma má formação congênita na mão esquerda, e de ser uma mulher fora do padrão estético. Fiquei triste, me coloquei no lugar da Bianca, que já havia falado "sim", e do filho dela, presente na cerimônia e feliz pelo dia de princesa da mãe, imaginando quanto preconceito e quanta rejeição ela já deve ter experienciado. E agora, como Jarbas antecipara no seu depoimento ("Estou pronto, já tomei a minha decisão, espero que ela não fique brava comigo"), o castelo estava prestes a desmoronar. A princesa seria abandonada no altar?
Era só uma piada! Com o suspense esticado pela edição do programa, que alternou imagens de Jarbas, de Bianca, de Camila, de Klebber e dos familiares, o noivo complementou: "...Não, eu não imagino sua vida longe da minha". Os risos ecoaram no salão, o coração desapertou, e as lágrimas desabaram pelo meu rosto quando Jarbas deu prosseguimento a seu discurso:
"Desculpa. Eu sei que você quase morreu do coração. Mas era só pra testar se ele é forte o bastante pra viverem três pessoas aí dentro; Klaus (o filho de Bianca), Sophia (a filha dele) e eu. A partir de hoje, as suas batalhas serão as minhas batalhas, e as suas vitórias serão as minhas vitórias. E se eu vivesse mil dimensões, eu falaria sim mil vezes. E eu te amaria em cada uma delas. Obrigado por ser você. Te amo".