O Acontecimento (L'Événement, 2021) é o primeiro título do recém encerrado Festival Varilux de Cinema Francês a estrear nos cinemas — entra em cartaz nesta quinta-feira (7) no Cine Grand Café e no Espaço Bourbon Country (e terá uma sessão no dia 12/7, às 19h, na Sala Paulo Amorim). Dirigido pela francesa de origem libanesa Audrey Diwan, o filme dá sequência a uma tradição: a das obras sobre aborto que são laureadas em importantes festivais ou premiações.
Um Assunto de Mulheres (1988), do também francês Claude Chabrol, valeu à atriz Isabelle Huppert a Copa Volpi no Festival de Veneza e concorreu ao Globo de Ouro de melhor filme internacional. O Segredo de Vera Drake (2004), do inglês Mike Leigh, ganhou o Leão de Ouro e o troféu de interpretação feminina (Imelda Staunton) em Veneza, faturou três Baftas e disputou três categorias do Oscar: direção, roteiro original e atriz. 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (2007), do romeno Cristian Mungiu, conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e foi indicado ao Globo de Ouro. Aprendendo com a Vovó (2015), do nova-iorquino Paul Weitz, entrou na lista dos 10 melhores títulos independentes elaborada pela National Board of Review (NBR). Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (2020), da estadunidense Eliza Hittman, recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim e uma distinção pelo neorrealismo no Festival de Sundance. Lingui (2021), do chadiano Mahamat-Saleh Haroun, foi escolhido pela NBR como um dos cinco estrangeiros da temporada passada.
Baseado no homônimo livro autobiográfico da escritora Annie Ernaux, O Acontecimento é mais um filme aclamado no Festival de Veneza, de onde levou o Leão de Ouro e o prêmio da crítica. Também ganhou, da Academia Francesa, o troféu César de atriz revelação (para Anamaria Vartolomei).
O filme se passa na França de 1963, mas seu tema adquiriu enorme atualidade nos últimos dias.
No Brasil, veio à tona o caso da menina de 11 anos que teve negada pela Justiça a interrupção da gravidez, prevista em lei, pelo fato de a garota ter sido vítima de estupro e correr risco. Nos EUA, a Suprema Corte revogou a decisão conhecida como Roe vs. Wade, de 1973, que garantia direito ao aborto às mulheres de todo o país. Agora, a decisão passa a ser dos Estados — pelo menos 13 deles vão tornar novamente proibida a prática.
Na trama, Anamaria Vartolomei interpreta Anne, uma estudante promissora que descobre estar grávida. Em nome de seu futuro, ela decide abortar, desafiando a lei e os preconceitos em uma jornada por conta própria. De modo seco e amparada pela atuação estoica de Vartolomei, a diretora Audrey Diwan retrata o quão solitária — e, também por isso, perigosa — pode ser a luta das mulheres por seus direitos.