A coluna de hoje é em homenagem ao Dia do Professor, essa profissão tão importante mas tão desvalorizada.
Para marcar o 15 de outubro, nesta sexta-feira, separei uma coleção de filmes e séries sobre um tipo especial de docente: aquele que, às vezes contra tudo e contra todos, vai além da matéria e tenta mudar a vida dos alunos.
O tema reúne títulos do Brasil, da Dinamarca, dos Estados Unidos e da França disponíveis em plataformas de streaming.
Ao Mestre com Carinho (1967)
Neste clássico de James Clavell, Sidney Poitier é um professor inexperiente que assume uma classe de alunos indisciplinados e tenta ensiná-los, antes de mais nada, a respeitarem-se uns aos outros. (Google Play e YouTube)
Sociedade dos Poetas Mortos (1989)
A Welton Academy, nos Estados Unidos, é cenário de um dos filmes mais emblemáticos da vertente. Robin Williams interpreta o professor John Keating, que, no final dos anos 1950, mostra aos seus alunos — criados sob o conservadorismo — a importância de "valorizar o dia", ou seja, viver cada momento com intensidade. Dirigido pelo australiano Peter Weir, o drama ganhou o Oscar de roteiro original e concorreu aos prêmios de melhor filme, diretor e ator. (Star+)
Mentes Perigosas (1995)
Neste filme de John N. Smith, Michelle Pfeiffer encarnou, uma professora da vida real, LouAnne Johnson, que abandonou a Marinha para dar aulas de inglês. Logo na primeira escola, ela depara com barreiras e a rebeldia dos alunos. Então, decide partir para outra forma de ensino, usando o caratê e músicas de Bob Dylan. (Star+)
Pro Dia Nascer Feliz (2005)
Premiado no Festival de Gramado — melhor filme pela crítica, pelo público, trilha sonora e prêmio especial do júri —, o documentário nasceu de uma pergunta: como o adolescente brasileiro encara a vida escolar? A partir daí, o diretor João Jardim entrevistou alunos e professores de escolas públicas e particulares de três Estados: Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O documentarista revela a complexidade das desigualdades sociais e da violência no país, mostrando precariedades, ansiedades, inseguranças e esperanças totalmente distintas. (Looke)
Escritores da Liberdade (2007)
Baseado em uma história real, o filme de Richard LaGravenese tem Hilary Swank como Erin Gruwell, professora de uma escola da periferia de Los Angeles que desenvolveu um método para integrar alunos de diferentes grupos étnicos. Incentivando a tolerância entre jovens negros, latinos e asiáticos que costumavam se enfrentar, ela promoveu uma pequena revolução no sistema educacional do país. (Netflix, Google Play e YouTube)
Entre os Muros da Escola (2008)
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o filme dirigido por Laurent Cantet e estrelado por atores não profissionais se tornou um fenômeno de bilheteria e de debate. O roteiro é baseado na experiência do professor de Francês François Bégaudeau, que interpreta o protagonista na trama ambientada na periferia de Paris. O ensino é o tema central, mas a sala de aula, como escreveu meu colega Daniel Feix, "é uma metáfora para a sociedade contemporânea como um todo". Os conflitos incluem a inadequação dos imigrantes, a formação problemática que os jovens trazem como herança da infância invariavelmente difícil, a falta de disciplina e respeito, a distância cultural entre professor e alunos e a incomunicabilidade resultante dessa equação. (Reserva Imovision)
Rita (2012-2020)
Encarnada por Mille Dinesen, a personagem criada por Christian Torpe é professora de literatura de uma escola em sua cidade natal, no interior da Dinamarca. Rita é querida pelos alunos, a quem distribui honestidade, doçura e lições de humanismo, mas é vista como rebelde e fora do padrão por seus pares e coordenadoras. Contribui para isso sua vida pessoal: divorciada, ela tem relacionamentos amorosos tensos; como mãe, lida com uma menina disléxica, um rapaz que se descobre homossexual e o primogênito que ainda não sabe bem o que quer fazer. A série teve quatro temporadas. (Netflix)
Quase 18 (2016)
A seu modo peculiar, Max Bruner (Woody Harrelson) acaba se tornando uma sábia companhia para a protagonista do filme de Kelly Fremon Craig, Nadine (Hailee Steinfeld), uma adolescente que se sente excluída de todos os grupos da escola: não se acha bonita nem é craque nos estudos ou no esporte. (Netflix)
Sementes Podres (2018)
A comédia dramática é escrita, dirigida e protagonizada pelo franco-iraniano Kheiron. Seu papel é o do trapaceiro Wael, que vive aplicando golpes na companhia de Monique (a sempre charmosa Catherine Deneuve). Quando um desses golpes dá errado, Wael acaba incumbido de ser o mentor de adolescentes à beira de serem expulsos da escola. Entre risos e lágrimas, todos aprendem algo sobre si próprios. (Netflix)
Segunda Chamada (2019-2021)
Criada por Jô Bilac (autor da peça Conselho de Classe), Carla Faou e Julia Spadaccini, a série brasileira se passa no universo da Educação para Jovens e Adultos (EJA). Quase toda a ação ocorre na fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus. Na primeira temporada, cada um dos 11 episódios é centrado na história de um aluno, entre eles a transexual Natasha (a cantora Linn da Quebrada), Solange (Carol Duarte), uma mãe solteira, Maicon (Felipe Simas), um motoboy desempregado, e Jurema (Teca Pereira), uma mulher idosa. Atravessam toda a trama os dramas dos professores, como Lúcia (Debora Bloch), que ensina português e volta a lecionar depois de uma tragédia pessoal, Sônia (Hermila Guedes), de história e geografia, Eliete (Thalita Carauta), de matemática, e Marco André (Silvio Guindane), de artes. Uma segunda temporada, com seis capítulos, foi lançada em setembro de 2021. (Globoplay)
Pena que não estão disponíveis
O Despertar de Rita (1983): o filme de Lewis Gilbert mostra a relação entre um professor universitário desencantado e uma cabeleireira simplória determinada a completar sua educação. Concorreu aos Oscar de melhor ator (Michael Caine), atriz (Julie Walters) e roteiro adaptado.
Anjos do Arrabalde (1987): vencedor dos Kikitos de melhor filme, diretor (Carlos Reichenbach) e atriz (Betty Faria) no Festival de Gramado, é sobre três professoras que enfrentam os problemas sociais da escola pública onde lecionam e tentam sobreviver à hostilidade da periferia paulista. Na esfera pessoal, precisam lidar com questões familiares e relacionamentos frustrados.
Madadayo (1993): neste comovente título do japonês Akira Kurosawa, o professor é tão inesquecível que seus alunos reúnem-se todos os anos para comemorar seu aniversário e repetir um ritual de celebração à vida do velho mestre.
O Quadro Negro (2000): a diretora iraniana Samira Makhmalbaf retrata o empenho dos jovens professores itinerantes que, na conflituada fronteira com o Iraque vão em busca dos alunos onde quer que eles estejam — com o quadro-negro nas costas.
Merlí (2015-2018): escrita por Eduard Cortés e dirigida por Héctor Losano, a série em três temporadas gira em torno de Merlí Bergeron (vivido por Francesc Orella), professor desempregado de filosofia que é literalmente jogado numa escola pública de Barcelona, a Àngel Guimerà, na qual tem de dar aula a alunos do Ensino Médio. O protagonista é um transgressor e um Don Juan, mas principalmente um docente apaixonado por sua matéria e convicto das virtudes do pensamento crítico, como escreveu a escritora e colunista Cíntia Moscovich: "Merlí incentiva seus estudantes a contestar, levando-os a crises dentro da escola e das famílias, mas também a experiências inevitáveis de crescimento".