Lúcia é professora por vocação, e a primeira temporada de Segunda Chamada comprovou isso. Na segunda fase, que estreou neste fim de semana no Globoplay, esse dom é ainda mais ressaltado na atuação da personagem de Debora Bloch dentro da Escola Estadual Carolina Maria de Jesus. No primeiro capítulo da temporada inédita, Lúcia percebe o risco do fechamento do curso noturno para jovens e adultos e vai atrás dos alunos em suas casas – alguns são pessoas em situação de rua.
Mais do que uma reflexão sobre educação, Segunda Chamada constrói narrativas sobre questões sociais, como a intolerância, a adoção e a situação da população que não tem uma casa para viver. O DNA da primeira fase segue nestes novos episódios: uma sala de aula plural, diversa e que traz imagens precárias do Brasil.
— Demos luz a uma população que é invisibilizada por todos nós, aquelas pessoas que a gente passa na rua e nem olha. Trazer esses personagens para frente da câmera é humanizá-los, fazer com que todo mundo tenha um olhar sobre isso tudo, que ficou ainda mais acentuado com a pandemia — reflete Debora.
Entre os estudantes, está Hélio, vivido por Ângelo Antônio, um dos acréscimos do elenco. Morador de rua e alcoolista, ele terá uma nova chance em sua vida ao entrar na escola, após ser abandonado pela mulher e pela filha.
No processo de criação, houve um sincronismo do personagem com a realidade. O ator lembra que, durante as gravações, assistia à cobertura sobre o desabamento de barracos em Belo Horizonte, por conta das chuvas, no final de janeiro deste ano. Na trama assinada por Carla Faour e Julia Spadaccini, Hélio também viu sua casa na rua ceder como consequência do mau tempo.
— Foi uma dor que eu tive a possibilidade de viver, de certa forma. Claro que a proporção é diferente, mas acabei me identificando com a situação, e o personagem acabou reforçando o quanto a escola é uma salvação, um caminho possível para a gente transformar a sociedade — diz Antônio.
Entrega
As gravações de Segunda Chamada iniciaram-se em fevereiro de 2020 e foram paralisadas durante a pandemia, sendo retomadas em dois períodos diferentes. Alguns dos capítulos precisaram ser reescritos, e a trama, reduzida a menos episódios. Com tantas dificuldades, a diretora artística Joana Jabace lembra que o momento da entrega do último capítulo lhe causou uma crise de choro:
— Houve tanta coisa, e ficamos com medo da série não acontecer. Foi duro o que passamos, e chorei muito por ser uma realização tremenda de superação, principalmente pelo momento político que estamos vivendo e por estarmos entregando uma série que fala sobre educação.
Com a vontade de ver uma terceira temporada, o elenco e toda a produção acredita que Segunda Chamada exerça uma função social importante, já que o país vive um "momento de escuridão".
— É um estrago enorme, gigante, o que a gente está sofrendo, com essa vitória da ignorância. Espero que seja só a vitória de uma batalha e que, no final da guerra, a gente tenha educação, cultura e amor. Segunda Chamada fez com que muita gente se sentisse representada. No fim, contribuímos para que tudo isso mude — destaca Debora.