Um Taxi Driver (1976) em quadrinhos, em preto e branco e sem violência — pelo menos, não a física.
É isso o que encontramos em Yellow Cab (Pipoca & Nanquim, 172 páginas, R$ 71,90), a quinta HQ do francês Chabouté publicada no Brasil, depois de Moby Dick, Um Pedaço de Madeira e Aço, Solitário e Henri Desiré Landru, todas pela mesma editora.
Com tradução de Rafael Meire, este volume se baseia no romance homônimo de Benoit Cohen, um cineasta conterrâneo de Chabouté que decidiu virar motorista de táxi em Nova York para transformar sua experiência em um roteiro cinematográfico.
Benoit é o protagonista da HQ, que logo nas primeiras páginas verbaliza como os táxis amarelos simbolizam tanto a cidade dos Estados Unidos quanto os filmes produzidos por lá: "O yellow cab é a essência de Nova York. É Taxi Driver, é De Niro, Scorsese, é Jarmusch, é Bonequinha de Luxo, é Vidas em Jogo do Fincher, Brando em Sindicato de Ladrões...".
Yellow Cab é como um filme também, no qual Benoit troca a cadeira de diretor pelo assento da direção, ao mesmo tempo em que vira um ator: desenvolve um personagem enquanto trafega pelas ruas nova-iorquinas, levando no banco de trás toda sorte de passageiros — dos amantes aos executivos, dos simpáticos aos grosseiros. De alguns ele ouve histórias, de outros temos que imaginar o motivo de um choro ou de um olhar distante.
Mas essas corridas só começam depois que o aspirante a motorista cumpre os cursos, os exames e uma interminável burocracia.
Durante todo o tempo, Chabouté — um exímio diretor de fotografia — faz o percurso ser agradável, às vezes vibrante, às vezes tenso, graças a sua capacidade de captar emoções dos inúmeros personagens que surgem em Yellow Cab. É sua arte que compensa os momentos em que as digressões de Benoit não são tão brilhantes quanto outras que pontuam a narrativa. A sensação é de que o cineasta enamorou-se demais da própria condição, calando a voz de coadjuvantes que poderiam trazer toques de surpresa, suspense ou sentimento à trama. Ou vai ver ser motorista de táxi em Nova York é isso mesmo: uma enorme solidão apesar de estar quase sempre acompanhado.