Com estreia nesta quinta-feira (3) nos cinemas, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio chega chegando. Em 1981, na cidade de Brookfield, no Estado de Connecticut, nos EUA, o casal de exorcistas e investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren (vividos por Patrick Wilson e Vera Farmiga) tentam salvar um gurizinho possuído por uma entidade maligna. De cara, o filme dirigido por Michael Chaves (o mesmo de A Maldição da Chorona) oferece portas que se fecham sozinhas, um banho de sangue, gritaria, frases em latim, um show de contorcionismo e alguma violência física, tudo embalado por uma trilha sonora tensa e sinistra.
Após esse início, digamos, animador, Invocação do Mal 3 (The Conjuring: The Devil Made me Do It) vai perdendo força a ponto de — em que pesem o sofrimento dos personagens e o susto dos espectadores — se tornar um terror genérico e entediante. Chato. Bem que poderia se chamar Invocação do Mala.
O filme é baseado em mais um dos casos reais documentados por Ed (1926-2006) e Lorraine (1927-2019), como os fenômenos sobrenaturais que assombraram a família Perron na pequena e isolada cidade de Harrisville, em Rhode Island (reconstituídos em Invocação do Mal) e o chamado Poltergeist de Enfield, na Inglaterra (Invocação do Mal 2). O menino exorcizado é David Glatzel (papel de Jullian Hilliard, o Billy Maximoff da série WandaVision). Ele é irmão de Debbie (Sarah Catherine Hook), namorada de Arne Cheyenne Johnson (Ruairi O'Connor), que logo depois vai se tornar o primeiro réu estadunidense a se defender de uma acusação de homicídio sob a justificativa de ter sido possuído pelo demônio.
A partir daí, os Warren embrenham-se em uma investigação praticamente policial, que envolve o desaparecimento de uma jovem em outro Estado, um ex-padre com olhar soturno e sotaque carregado (John Noble, o Henry Parrish da série A Lenda de Sleepy Hollow e o Morland Holmes do seriado Elementary) e muitos deslocamentos da dupla. Essa é uma diferença marcante de Invocação do Mal 3 em relação aos segmentos anteriores, que se concentravam nas casas das famílias atingidas.
Pelo lado positivo, mostra a disposição dos roteiristas — entre eles, o cineasta James Wan, criador da franquia (leia mais logo abaixo) — em evitar incorrer em uma fórmula. Porém, compromete A Ordem do Demônio ao privá-lo de duas grandes virtudes dos primeiros dois longas.
Não temos mais a pacienciosa — e, por isso, aflitiva — exploração do cenário. Em Invocação do Mal, por exemplo, James Wan deu aula de construção de atmosfera e de preparação para sustos ao focar em quartos, portas, janelas e escadas da residência dos Perron.
Não temos, também, o desenvolvimento de personagens, que aumentava o drama e, por consequência, potencializava o suspense (pelo menos para quem não é especialista nos casos do casal paranormal). A família Glatzel é praticamente abandonada, e da figura humana que surge como antagonista conhecemos muito pouco. Para piorar, Ruairi O'Connor e Sarah Catherine Hook não são carismáticos, e a química do casal Arne e Debbie é zero. E como sabemos que Ed e Lorraine Warren continuaram vivos por bastante tempo depois dessa, as ameaças que enfrentam dão no máximo um medinho.
James Wan, o pai do "Invocaverso"
A Ordem do Demônio é o oitavo filme de um universo cinematográfico, o "Invocaverso", mais uma criação de um Midas do terror, o australiano nascido na Malásia James Wan, 44 anos. Em 2004, ele lançou a franquia Jogos Mortais, do chamado torture porn, que explora o sadismo do espectador. Em 2011, foi a vez de outra cinessérie, Sobrenatural (no original, Insidious). Em 2013, estreou Invocação do Mal. Somadas, as aventuras vividas por Ed e Lorraine e aquelas ligadas ao investigadores do paranormal já arrecadaram US$ 1,9 bilhão nas bilheterias.
Com o novo título, o Invocaverso chega à década de 1980. A Freira (2018) se passava em 1952, Annabelle 2: A Criação do Mal (2017), em 1955, e Annabelle (2014), em 1967. Três tramas foram ambientadas nos anos 1970: Invocação do Mal, em 1971, Annabelle 3: De Volta para Casa (2019), em 1972, e A Maldição da Chorona (2019), em 1973.
O avanço na cronologia é coerente —, afinal, os atores Patrick Wilson e Vera Farmiga não vão ficar mais jovens —e permite aos fãs de Ed e Lorraine Warren imaginarem que os próximos filmes possam ser sobre outros casos famosos, como o do "demônio lobisomem", o poltergeist da família Smurl, o do cemitério Union e o da casa Snedekopaer.