O grande campeão da temporada 2020/2021 estreia nesta quinta-feira (20) nos cinemas de Porto Alegre: Nomadland, que entra em cartaz no Espaço Itaú, GNC Iguatemi, GNC Moinhos e Guion.
Depois de receber o Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado, Nomadland empilhou prêmios até ser consagrado no Oscar, no final de abril, com as estatuetas douradas de melhor filme, direção (a chinesa radicada nos Estados Unidos Chloé Zhao, 39 anos) e atriz (Frances McDormand, o terceiro na carreira, depois de Fargo e Três Anúncios para um Crime). Antes, faturara o Gotham (para produções com orçamento de até US$ 35 milhões), o Globo de Ouro, o Critics' Choice, o troféu da Associação dos Produtores, o Bafta (da Academia Britânica) e o Independent Spirit Awards.
Zhao, que também ganhou o Bafta, o prêmio da Associação dos Diretores, o Globo de Ouro e o Spirit Awards, fez história na 93ª edição do Oscar. Tornou-se a segunda mulher a vencer a categoria de direção, depois de Kathryn Bigelow (por Guerra ao Terror, em 2010).
Em Nomadland, ela volta a filmar no mítico Oeste dos EUA, como em Songs my Brother Taught Me (2015) e Domando o Destino (2017, disponível em Telecine, Google Play e YouTube). Mas, em vez de voltar os olhos para os indígenas, agora mira os estadunidenses brancos com mais de 50 anos; em vez de dirigir apenas amadores, inclui no elenco atores profissionais, como Frances McDormand e David Strathairn. (Só para conhecimento, a próxima empreitada será muito diferente: Os Eternos, com heróis da Marvel, estreia em novembro.)
O filme é baseado no livro Nomadland: Sobrevivendo na América do Século XXI, da jornalista Jessica Bruder, que está sendo lançado no Brasil pela editora Rocco. Aborda um tema absolutamente contemporâneo e urgente: o impacto da recessão na vida das pessoas comuns. A trama é sobre uma mulher de seus 60 anos, Fern, que perdeu o emprego, a casa e até o marido (ficou viúva) após o fechamento de uma fábrica em uma cidade chamada, ironicamente, de Empire (império, em inglês). Ela passa a viver como nômade, morando em sua van e vivendo de trabalhos precários. O estopim foi a crise econômica de 2008, mas a história ganhou ainda mais atualidade em meio à pandemia do coronavírus, que também impôs revezes financeiros a muitas famílias.
Em uma delicada parceria com o diretor de fotografia Joshua James Richards, Chloé Zhao acompanha a convivência da personagem de Frances McDormand com nômades da vida real, como Linda May, Bob Wells e Charlene Swankie. E equilibra bem a narrativa ficcional, mais ou menos episódica, com um retrato social, que ora transparece otimismo, ora melancolia.
Apesar da coleção de conquistas, a diretora e roteirista foi alvo de algumas críticas. Nomadland evita falar da exploração sofrida em trabalhos precários e temporários, como na Amazon — cenário de algumas passagens. O filme também não toca em política. Em entrevistas, Zhao se justificou:
— Eu sei que, só de apontar a câmera, alguém vai ver algo político. Mas o que eu acho é que, quando um tornado vem chegando, não importa em quem você votou para presidente. É preciso trabalhar juntos para sobreviver. E nem todo o mundo que colocou o pé na estrada é apenas uma vítima da falta de empregos decentes para a classe trabalhadora. As motivações se misturam e se confundem. Uns perseguem o sonho de liberdade representado pelo Oeste. Outros escolhem viver com menos, por necessidade ou vontade. Existem aqueles à procura de si mesmos. Ou de reinvenção.