Irmão mais novo de James Franco e ator do envolvente thriller juvenil Nerve, Dave Franco, 35 anos, estreia como diretor em The Rental (2020) – ou Vigiados, como o título também aparece no Amazon Prime Video.
Na trama, dois casais jovens alugam uma baita casa em um penhasco para passar o fim de semana. Uma das duplas é formada por Charlie, um empresário interpretado pelo ótimo Dan Stevens (de O Hóspede), e Michelle, personagem vivida por Alison Brie (esposa de Dave Franco e atriz do subestimado Entre Realidades, que eu incluo na lista dos 20 melhores filmes de 2020). O outro casal reúne Mina, a sócia de Charlie, papel da iraniano-americana Sheila Vand (coadjuvante em Argo, o vencedor do Oscar em 2013), e o irmão dele, Josh (Jeremy Allan White, dos seriados Shameless e Homecoming).
Evidentemente, o que começa como curtição vai se transformando em desastre. De partida, aliás, antes mesmo de chegarem ao endereço disponibilizado via algum tipo de Airbnb, surge um atrito: com sobrenome e feições do Oriente Médio, Mina Mohammadi se dá conta de que foi vítima de preconceito racial e talvez até de machismo ao tentar locar o mesmo imóvel antes de Charlie, um homem branco.
A recepção por Taylor (Toby Huss), o locatário, não é das mais amistosas, mas agora o quarteto já está lá, então, o negócio é aproveitar – o que inclui uma tarde de passeio pela praia deserta e fria e uma noite de dança embalada por bebidas e outras drogas.
Os dois casais trouxeram coisas escondidas na bagagem. A mais visível é o buldogue de Josh, vetado pelas regras da casa. Mas há também as intangíveis, embora praticamente palpáveis, como a primeiríssima cena de Vigiados deixa intuir.
Não vou dar spoilers, mas eis um filme que, modéstia à parte, seria muito melhor se tivesse se desenvolvido como eu pensei que iria se desenvolver.
Sei que, no Twitter, Stephen King elogiou, destacando o "enredo real" e "uma sensação de John D. MacDonald" (autor de Cabo do Medo, romance duas vezes levado ao cinema, por J. Lee Thompson em 1962 e por Martin Scorsese em 1991). Mas o próprio mestre do suspense apontou que "já vimos esse tropo do terror antes". E chega um momento em que a história, coescrita pelo diretor estreante, vira um lugar-comum, recorrendo a soluções tão óbvias quanto artificiais. É quase como se Franco tivesse a pretensão de dar início a uma – sem trocadilho – franquia para os tempos de Airbnb.
Mas, verdade seja dita, é promissora a estreia de Dave Franco atrás das câmeras. Para começar, ela sabe onde colocá-las, tornando o espectador um voyeur ao mesmo tempo cúmplice do que vai acontecer e assustado pelo que pode acontecer. Todos os ingredientes lançados no início – a tensão sexual, o cachorro proibido, o locatário bronco, a jacuzzi deliciosa – têm seu sabor acentuado nesse prato cozinhado com cadência.
Para mim, o pecado do diretor foi pesar a mão nos agentes externos na hora de incendiar a trama. Bastaria continuar usando como combustível os segredos e as mentiras que existem entre os quatro personagens, as desconfianças e os desencontros, o poder da intriga e da sugestão.