A dica para o feriadão desta segunda-feira, Dia da Independência, é assistir a filmes brasileiros, ora. Separei sete que estão disponíveis em plataformas de streaming (Amazon Prime Video, Globoplay e Netflix) e que, no conjunto da obra, pintam um retrato do nosso país, da nossa história, de nossa gente e de nossos problemas.
Deus É Brasileiro (2003)
O alagoano Cacá Diegues, diretor de Ganga Zumba, Xica da Silva e Bye Bye Brasil, assina esta adaptação de um conto do baiano João Ubaldo Ribeiro. Em cartaz no Amazon Prime Video, Deus É Brasileiro tem Antonio Fagundes no papel do todo-poderoso, que empreende uma viagem pelo Nordeste à procura de um substituto – Ele está cansado dos erros cometidos pela humanidade e resolveu tirar umas férias. Misto de comédia existencial/folclórica e filme de estrada com pegada social, foi um dos primeiros longas-metragens do ator Wagner Moura – aqui, no papel do malandro Taoca, o guia de Deus no Agreste. O estrelado elenco inclui Paloma Duarte, Hugo Carvana, Castrinho, Stepan Nercessian, Bruce Gomlevsky e o cantor Toni Garrido.
Tropa de Elite (2007)
Recém-adicionado ao catálogo da Netflix, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, o filme de José Padilha sobre a guerra do tráfico no Rio provocou um intenso debate: o diretor condena ou exalta a violência na ação dos policiais? Para uns, Tropa de Elite é uma radiografia da realidade do combate ao crime no Brasil, que mostra como a polícia se tornou corrupta e abusiva; para outros, o cineasta transforma o capitão Nascimento (interpretado por Wagner Moura) em herói, um justiceiro que acaba impondo a ordem pela força, à margem da lei, como única alternativa possível em um cenário em que a própria sociedade financia o negócio das drogas. O longa-metragem gerou uma continuação, Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora É Outro (2010), em que o protagonista já não sobe os morros cariocas – tem de lidar com a corrupção de políticos e agentes da segurança pública e o surgimento das milícias.
Xingu (2011)
Depois de mirar a ditadura militar pela visão de uma criança em O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006), Cao Hamburger mergulhou mais fundo na história do país. Em Xingu, o cineasta visita os anos 1940 para reconstituir a aventura dos jovens irmãos Villas-Boas – Orlando (papel de Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat) –, os fundadores da reserva indígena com mais de 2,6 mil hectares no norte de Mato Grosso. Cada irmão tem um perfil. Orlando, o mais velho, é o político; Leo, o caçula, é impetuoso; e Cláudio, o irmão do meio, é o idealista que expressa a contradição da expedição em meio a povos como os xavantes e os kalapalos: "Nós somos o antídoto e o veneno", afirma. Xingu pode ser visto no Globoplay.
Cidade de Deus: 10 Anos Depois (2013)
O documentário de Cavi Borges e Luciano Vidigal se debruça sobre a trajetória de atores que estrelaram o filme Cidade de Deus (2003), indicado a quatro Oscar. A partir dos depoimentos de Seu Jorge, Alice Braga, Darlan Cunha, Douglas Silva, Roberta Rodrigues e Leandro Firmino da Hora, entre outros, os diretores e os entrevistados discutem questões como racismo, preconceito, ascensão social, solidariedade e o cotidiano das comunidades periféricas brasileiras. Cidade de Deus: 10 Anos Depois está em cartaz na Netflix.
Casa Grande (2014)
Pelo olhar de um adolescente de 17 anos, acompanhamos a derrocada de uma família burguesa do Rio de Janeiro. No meio do caminho, o diretor Fellipe Barbosa aborda a desigualdade social e a política de cotas, a hipocrisia das elites e sua relação com os empregados domésticos (o título faz referência explícita ao livro Casa Grande & Senzala, lançado em 1933 pelo sociólogo Gilberto Freyre), o machismo estrutural e os anseios sexuais da faixa etária.
As atuações são cativantes – em especial a de Thales Cavalcanti, o protagonista, e a de Marcello Novaes, que faz o pai –, as situações são absolutamente verossímeis, e o ritmo é fluido.
O tom natural de Casa Grande só é quebrado na cena do churrasco, já referida por outros críticos. Se a personagem que discursa tivesse manifestado um tiquinho de suas opiniões antes, a sequência teria chamado atenção não por parecer deslocada, artificial, mas pelo conteúdo. Entretanto, não é algo que chega a depor contra a qualidade e a relevância do filme, disponível na Netflix.
Que Horas Ela Volta? (2015)
Premiado nos festivais de Berlim, Sundance (Estados Unidos) e São Paulo, o filme de Anna Muylaert mostra a relação e os conflitos entre patrões e domésticas. Em uma atuação arrebatadora, Regina Casé interpreta Val, empregada em uma casa de classe média alta em São Paulo. Ela é "da família", mas quando sua filha chega de Pernambuco para prestar vestibular, a garota começa a questionar a desigualdade social e a não se conformar com as interdições – nem sempre explícitas – impostas pela elite. Jéssica (Camila Márdila) não sabe nem quer saber de "seu lugar": ao contrário da mãe, ela já entende que a sociedade não é estática. Disponível no Globoplay.
Aquarius (2016)
Os protestos no Festival de Cannes, na França, tornaram o filme um símbolo da resistência cultural ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e contra o governo Michel Temer. Com direção de Kleber Mendonça Filho, correalizador de Bacurau, Aquarius conta a história de uma jornalista aposentada (Sônia Braga) de Recife que luta para defender o edifício onde morou a vida inteira do assédio de uma construtora. É uma obra sobre a preservação da memória e do afeto, com margem para a crítica ou a autocrítica: Clara, a protagonista, não deixa de ser uma burguesa que também usufrui de privilégios. Em cartaz na Netflix.