Lembro como se fosse hoje do valseado pelo salão do CTG Farroupilha, no Alegrete, no meu Sarau da Prenda jovem (o baile de debutantes da tradição), ao som de “prenda jovem, linda flor, teus cabelos têm cheiro de amor...”. Lá estavam Os Serranos, após uma disputadíssima agenda para tê-los como o conjunto do fandango. Baile com Os Serranos sempre foi (e ainda é) garantia de casa cheia, de bom repertório, de qualidade musical, de profissionalismo, uma espécie de marca de referência desse mercado gaúcho.
Em 2018 o conjunto, criado em Bom Jesus no mais autentico estilo serrano, começado pelos irmãos Bertussi, completa 50 anos.
Tive a alegria de passar um dia com eles no sítio onde os irmãos Edson e Everton (o popular Toco) construíram suas casas e o escritório da banda e compartilham momentos dessa família que formaram em cinco décadas de estrada. Os “guris” me receberam para cozinhar uma Massa com Javali que está no quadro Cozinha de Galpão deste domingo e, claro, para relembrar momentos marcantes dessa história.
Edson é pescador. O Toco, caçador — aliás, o Javali (que tem abate autorizado, é bom frisar) —, foi caçado especialmente por ele para nos apresentar a receita. E, pelo que vi, a fama de contador de histórias não é apenas de quem lida com a água não. Lá estavam o Daniel Hack, gaiteiro, fã confesso desde sempre do conjunto, o William, jovem talento gaúcho, o Tiago, filho do Toco que organiza o escritório e o “seu Raul Bonamigo , sogro do Tiago, que descobri ser o mestre do Toco na culinária (e puxando a brasa pro meu assado, fã do Galpão).
Foi nessa conversa que revimos muito do que eles passaram, mas que me ficou claro serem Os Serranos precursores em tantos aspectos desse cenário do baile e da música feita no Sul. Só par citar alguns exemplos: o primeiro ônibus de conjunto foi deles (por mais que o pai considerasse uma loucura). O primeiro cartaz de baile colorido, pelo qual pagaram uma fortuna. Acredito que o primeiro fã clube de grupo organizado e espalhado por vários Estados brasileiros também é deles. Foram os primeiros a gravar o clássico argentino Merceditas, e olha, por aí vai.
Quando a gente observa uma historia de sucesso, de competência e de profissionalismo, sobretudo de compromisso musical e artístico com a identidade gaúcha, entende facilmente o porquê de 50 anos de carreira.
E claro que eles vão comemorar em alto estilo. Começou em Bom Jesus e continua em Porto Alegre, no majestoso Theatro São Pedro, nos dias 21 e 22 deste mês. E tio Edson garante: vão reviver momentos do início de tudo. Vale se emocionar!