BAILE DO MAIA
Não tem lenço, nem bota, mas lembra sonoridades gaúchas de décadas atrás. O Baile do Maia, criado há poucos meses, é um dos projetos instrumentais mais originais em atividade no Rio Grande do Sul. Sem protocolos, com despojamento e espaço para o improviso, o acordeonista Luciano Maia montou um grupo para colocar o público para dançar.
A iniciativa é inspirada em festas que atraem multidões para se divertir ao som de música regional ao vivo, como o Baile do Almeidinha, com Hamilton de Holanda, no Rio. As apresentações não estão programadas apenas para CTG, e nem é preciso estar pilchado para entrar na folia. A próxima edição do baile está marcada para 14 de setembro, 21h30min, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Harmonia), dentro das comemorações da Semana Farroupilha. Mas no dia 20 a função será no urbano e multicultural Espaço Maestro (Rua Doutor Barcelos, 570).
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– A ideia é estar aberto a diferentes públicos, gente que sai à noite, que quer encontrar os amigos e dançar. Quem vai ao CTG também frequenta outros lugares, então poderá se agregar ao público do baile – explica Maia.O Baile do Maia quer ir além dos galpões, mas sua inspiração musical está próxima do que era tocado junto ao fogo de chão há décadas. O repertório é baseado em pesquisa do músico sobre álbuns gravados entre os anos 1940 e 1970, repassando composições de Pedro Raymundo, Os Bertussi, Conjunto Farroupilha e Os Serranos, entre outros.
– As gravações de artistas gaúchos daqueles anos soavam mais brasileiras e universais – avalia Maia. – Não se tinha vergonha de fazer música para dançar, com cavaco, pandeiro, percussão acentuada, próxima do samba e do choro.
Para reler e dar nova personalidade aos temas, Maia é acompanhado no palco por Matheus Alves (violão), Luis Arnaldo (cavaco), Miguel Tejera (baixo acústico), Giovani Berti (percussão) e Sandro Bonato (bateria).
– A minha intenção é que o público dance e se divirta, mas ouvindo música de altíssima qualidade – diz Maia.
Além do baile, o acordeonista está com um projeto que valoriza a música instrumental gaúcha. Trata-se da série de programas Falando em Gaita, que irá ao ar pelo YouTube a partir de outubro. Nos episódios, músicos contam histórias e revelam curiosidades sobre a relação com a gaita. Edson Dutra, Renato Borghetti, Luiz Carlos Borges e Albino Manique foram os entrevistados.
OS SERRANOS
Com quase 50 anos de trajetória, Os Serranos acabam de lançar seu primeiro trabalho totalmente instrumental. O DVD Conhecendo o Rio Grande do Sul registra o grupo em diferentes palcos do Estado tocando temas próprios e de compositores como Gonzaga dos Reis (Fandango do Rodeio em Vacaria), Os Bertussi (Acerte o Passo) e Ailton Missioneiro (Ailton Missioneiro).
– Tínhamos há muito tempo o desejo de gravar um DVD nesses moldes. Nos bailes de antigamente, a música instrumental era fundamental. Por conta disso, o Rio Grande do Sul tem um imenso manancial desse tipo de composição a ser explorado – conta Edson Dutra, líder do grupo.
Financiado via lei de renúncia fiscal, o DVD também teve como objetivo registrar as paisagens e a cultura das diferentes partes do Rio Grande do Sul. Com dificuldade para captar o valor integral do projeto junto aos apoiadores, Os Serranos abriram mão de alguns itens previstos. A ideia original era gravar todas as faixas ao vivo, em palcos das regiões Metropolitana (Canoas), Norte (Passo Fundo), das Missões (Santo Ângelo), do Litoral (Torres), Sul (Chuí), da Fronteira (Uruguaiana), da Serra (Bom Jesus) e Central (Santa Maria). O grupo manteve o roteiro, mas não conseguiu realizar apresentações em todas os municípios planejados.
– Incluímos as mesmas cidades previstas, mas naquelas em que não tínhamos verba disponível, como Torres e Santo Ângelo, gravamos apenas videoclipes, em vez de realizar o espetáculo – diz Dutra.
Nos clipes, o grupo toca em praças públicas e pontos turísticos, fazendo playback do que foi anteriormente gravado em estúdio. Nesses casos, os vídeos não conseguem reproduzir o impacto que as performances ao vivo causam no espectador. O resultado só não é vexatório porque Dutra acompanhou o processo de edição do DVD, fazendo com que os complexos fraseados de acordeom não perdessem a sincronia entre imagem som.
Os acordeonistas são os grandes destaques ao longo das faixas. Com estilos diferentes, Daniel Hack, William Hengen e Edson Dutra exploram o instrumento com desenvoltura e virtuosismo, criando diálogos sonoros entre o trio e os demais instrumentos.
Um álbum virtual, com todos os áudios do DVD, está disponível gratuitamente para download no site do grupo (osserranos.com.br). Atualmente, a banda trabalha na edição de um DVD, mas com faixas cantadas, que deve ser lançado ainda neste ano.
EDILBERTO BÉRGAMO
A gaita-ponto foi o primeiro instrumento de Edilberto Bérgamo. E foi à gaita-ponto que ele retornou depois de um inesperado revés. Acordeonista da banda de César Oliveira & Rogério Melo, Bérgamo perdeu todos seus instrumentos após um incêndio em sua casa, em Cacequi.
– Só em gaita, devo ter perdido R$ 60 mil – calcula o músico.
Depois do incidente, o fã Diego Severo, administrador da fábrica de acordeões Minuano, procurou Bérgamo e deu a ele uma nova gaita de oito baixos. Foi um bom remédio para esquecer as perdas.
– O Diego me mandou essa gaita, e logo comecei a compor com ela. Fazia uma música atrás da outra. Depois de 10 novas composições, tive a ideia de gravar um disco com o instrumento – lembra Bérgamo.
O resultado é o CD Oito Baixos de Botão, que acaba de ser lançado. O músico é reverente aos mestres do instrumento, como Tio Bilia, Reduzino Malaquias e Sadi Cardoso, mas também quer explorar novas possibilidades da gaita. Não se trata de um disco de virtuosismo exibicionista, comum entre os álbuns instrumentais. Com quatro álbuns lançados anteriormente – Fronteiro (2004), Alma Guarany (2005), Chamamérica (2007) e Recuerdo (2008) –, Bérgamo aposta agora em harmonias e melodias simples.
– Quis fazer algo lembrando os trabalhos antigos de oito baixos, mas pensando em renovar o repertório e deixar minha marca no instrumento. Por isso, há uma diversidade grande de ritmos e simplicidade nas composições. Quero ver outros gaiteiros tocando as músicas, propagando a oito baixos de botão – explica Bérgamo.
O instrumentista afirma que a gaita de oito baixos é emblemática na música gaúcha e deve reafirmar esse posto de destaque:
– É a gaita de entrada para quem quer aprender o instrumento. Quando alguém começa a tocá-la bem, acha que ela não tem mais recurso e a abandona. No entanto, é responsável por grande porcentagem da criação da nossa música. Não é um instrumento de passagem. É peça fundamental da nossa tradição e tem características únicas.