Eu posso parecer tendencioso por falar do Almir. Realmente, acaba sendo impossível não ser pelo menos um pouquinho, porque boa parte da carreira dele eu estava literalmente ao lado dele.
A história do Almir é similar à minha em muitos sentidos. Nós dividimos o quarto durante alguns anos, almejamos juntos a chegar no alto rendimento e sonhamos em competir uma Olimpíada algum dia.
Já o Piu, assim como eu, é um jovem negro que achou, através do esporte, um caminho para mudar de vida e garantir um futuro melhor.
Em Tóquio, Almir e eu realizamos nosso sonho. Competimos nossa primeira Olimpíada e, por um acaso do destino, eu dividi o quarto com o Piu dentro da vila olímpica. Na época, ele era uma promessa do atletismo que se tornou realidade ali no Japão.
É com esses encontros e desencontros que temos na vida que vamos construindo nosso caminho. Conhecer e ter uma relação de amizade com esses dois caras é surreal para mim.
Eu ter me tornado um atleta olímpico junto com eles é motivo de orgulho para o resto da minha vida e, embora não tenha conseguido estar em Paris com eles, torcida de minha parte não faltará nunca.
É lógico que, quando somos atletas, queremos sempre ganhar, e não só por nós, mas por nossas famílias, nossa equipe e pessoas que nos acompanham diariamente.
As nossas expectativas como atleta são sempre as melhores possíveis, nós acreditamos fielmente que vamos ganhar. Quando chegamos nas competições, não existe outro pensamento em nossas mentes e nem pode existir, é a vitória ou nada mais.
E é assim que tem que ser. O caminho para a vitória começa com uma mentalidade vencedora. Infelizmente, só um atleta pode ser o campeão. Isso também já é sabido. Então, não é sempre que se consegue.
Desta vez o Almir infelizmente não conseguiu e, para mim, isso não anula o fato dele ser um campeão. Esse ano não saiu com a medalha mas, em compensação, saiu de Paris com uma esposa — pediu a namorada Talita em casamento no meio da pista, após a final do salto triplo.
Piu mais uma vez conseguiu medalhar em Olimpíada, novamente ganhando um bronze e entrando num seleto grupo do atletismo que ganhou duas medalhas olímpicas. Isso só demonstra o tamanho do talento que ele é e, mesmo tão jovem, com apenas 24 anos, já se torna uma lenda do nosso esporte.
Acompanhar esses caras é magico. Olimpíadas é mágico.