Com o passar dos meses, vimos a escalada na guerra Rússia-Ucrânia se tornar motivo de debate no mundo inteiro. Pessoas se posicionando a favor ou contra um dos lados, líderes mundiais buscando o diálogo das duas partes e, principalmente, a comunidade internacional pedindo um cessar-fogo. As consequências do conflito afetaram diversas áreas e ecoarão profundamente pelos próximos anos em todas elas, inclusive no esporte.
Eu, como internacionalista, tenho um interesse muito grande em política internacional e, ocasionalmente, faço algumas análises para não perder o hábito. Por isso, o conflito entre Rússia e Ucrânia está no meu radar há muito tempo.
É interessante constatar que uma das primeiras medidas tomadas contra a Rússia pela invasão à Ucrânia foram as sanções esportivas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Entre uma série de apontamentos, não permitir nenhum evento esportivo internacional ser organizado ou apoiado por uma Federação Internacional (FI) ou Comitê Olímpico Nacional (CON) na Rússia ou Belarus e que atletas desses dois países não possam participar de eventos esportivos internacionais.
Se pararmos para analisar rapidamente, parece justo que essas sejam algumas das consequências pela invasão a uma nação soberana, afinal é um crime de guerra além de uma violação dos direitos humanos. Entretanto, olhando um pouco mais profundamente, afirmo aqui que não há justiça nisso, por dois motivos: atletas não têm controle sobre as ações de seus governos e não há punição igualitária para todas as nações que cometem crimes de guerra e/ou violam direitos humanos.
Ao longo da história, em diversos momentos, ocorreram conflitos geopolíticos, governos divergentes no escopo internacional e invasões. Em muitos casos, atletas acabaram prejudicados pelas atitudes de seus governos, seja sofrendo boicotes em Jogos Olímpicos, sendo removidos de competições internacionais e até mesmo indo ao extremo de perderem suas vidas. Não faltam exemplos de histórias e, levando isso em consideração, a história nos ensina — não podemos permitir que atletas sejam punidos pelas decisões de seus governos.
Indo além dos principais prejudicados (os atletas), quem decide quais nações devem ser punidas e quais não? Há muitas décadas acompanhamos na situação de Israel-Palestina incontáveis crimes de guerra e violações de direitos humanos, mas não vemos nenhuma sanção — esportiva ou não, sendo aplicada. Em 2003, o mundo parou para ver a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e nos anos subsequentes pudemos mensurar o dano causado por ela a uma nação que costumava ser soberana. Curiosamente, não houve sanções ou algum tipo de punição às equipes esportivas e atletas estadunidenses.
Quero deixar claro aqui, nesse texto, que não estou pedindo para haver ou não punição às nações que praticarem crimes de guerra ou violações de direitos humanos. Apenas quero que os atletas, que dedicam suas vidas inteiras ao esporte, não sejam prejudicados. Os Jogos Olímpicos são também sobre a inclusão e celebração entre nações, não podemos excluir atletas de nações específicas. Devemos utilizar os esportes, nesse caso com a ajuda do COI e seu potencial de atravessar fronteiras, para ampliar a voz dos prejudicados, negociar com as partes envolvidas e, assim, permitir que haja uma verdadeira justiça.