Neste fevereiro, a família Pegoraro poderia ser encontrada em alguma estrada da Irlanda ou Escócia, cumprindo seu 13º roteiro pelo mundo a bordo de um motor home. Ao todo, seus três integrantes, moradores de Bento Gonçalves, somam mais de 40 mil quilômetros e quase 30 países cruzados com esse meio de transporte/hospedagem – o último trajeto, em 2019, antes da pandemia, até o Círculo Polar Ártico, na Noruega; o primeiro, em 2012, pela Nova Zelândia, estreando com mão inglesa.
No veículo, viajam a promotora Claudia, o policial rodoviário federal Marlon, ambos de 46 anos, e Felipe, 13 anos, que desde 2010 dá nome ao blog Felipe, o pequeno viajante e a um modo de andar pelo mundo – com “aventuras em família” – que os fez angariar mais de 300 mil acessos mensais e 23 mil seguidores do Instagram. Juntos, ao longo de 13 anos, passaram por mais de 60 países – antes de o filho nascer, o casal já alfinetava no mapa-múndi mais de 40 nações, até descobrir que viajar com uma criança podia ser tão ou mais divertido.
Nesse roteiro de agora, em 25 dias, além de retomar as viagens de motor home, a ideia é mostrar a Felipe a aurora boreal nas Ilhas Faroé, território da Dinamarca no Atlântico Norte, um dos pontos onde o fenômeno das luzes dançantes é visível e único no qual usarão hotel e carro alugado.
Por que optar por motor home, ainda mais com criança?
É Claudia, autora da maioria dos relatos (o marido se encarrega de fotos, vídeos, design), quem explica:
– Descobrimos que é muito confortável. As roupas, os brinquedos, a alimentação ficam à mão, além de proporcionar a experiência de acampar, do contato com a natureza. É o tipo de viagem de que o Felipe mais gosta.
Nunca o fazem por períodos muitos longos e Claudia desmistifica a ideia de que seja muito mais barato. Com o aumento da demanda por motor homes, em parte por causa da pandemia, os alugueis aumentaram, deixando menos vantajosa a relação com hospedagem e transporte. É na alimentação, porém, que está o principal benefício, diz ela, já que quase todas as refeições podem ser feitas na casa rodante, e na liberdade de ir e de parar quando quiserem.
Com Felipe, as viagens ocorrem sempre nas férias escolares, mesmo que os períodos não sejam os mais favoráveis para os destinos escolhidos. E ainda que ele já seja um adolescente e não mais o “pequeno” do título do blog, a norma é mantida, e às vezes o casal viaja sozinho, como num recente trekking no Nepal onde, além de tudo, havia a proibição para menores de 16 anos.
Focando na primeira infância do menino, Claudia garante que sair pelo mundo com uma criança é muito mais fácil do que muitos imaginam e eles tiveram a sorte de Felipe nunca ter ficado doente – em 13 anos, ficaram memoráveis a vez em que ele prendeu o pé numa roda de bicicleta, na Indonésia, e outra em que teve uma febre repentina em um trem cruzando a Índia, ambas sem consequências maiores.
– Quanto menor a criança, mais fácil. Depois que cresce é que complica um pouco, tem de ter wi-fi (risos), mas nada que impeça a diversão – diz ela, que não pretende mudar o nome de suas plataformas agora que o “pequeno viajante” cresceu.
Dicas
Claudia dá sugestões para viajar com crianças e, mais especificamente, de motor home (no blog, há mais de 200 posts sobre o tema):
Na estrada:
- O ideal é programar para que o primeiro dia seja tranquilo. Você terá de sair da locadora sabendo como tudo funciona, além de colocar os pertences nos armários e ir ao supermercado. Não pense em sair direto para conhecer atrações turísticas.
- Trata-se de uma road trip, mas não esqueça de que é um veículo com o qual se anda mais devagar, então evite fazer mais de 200 quilômetros por dia, para não ficar estressante.
- Não é um tipo de viagem para curtir cidades, mas a estrada, a natureza, os parques – a graça é acampar, fazer fogueira. No caso do Felipe, o que ele mais curte é a viagem em si, se divertir dentro do motor home, das experiências junto à natureza.
- Tentamos sempre fazer “free camping”, ficamos em lugares onde nos sentimos seguros e, óbvio, não seja proibido estacionar, às vezes em uma rua tranquila.
- Os melhores lugares para ir: a Nova Zelândia é perfeita, assim como o Canadá, que tem estradas boas, onde é fácil de dirigir e de estacionar, sem contar a exuberância da natureza. O mesmo vale para a Costa Oeste dos EUA e o Sul da Espanha, também muito preparado para esse tipo de viajante – é um dos meus lugares preferidos.
- As roubadas: nossa pior experiência foi em cidadezinhas pequenas da Holanda, onde já é difícil circular de carro e pior de motor home. O mesmo vale para França e Itália – deixe o veículo longe e vá a pé – e para as estradas de montanha.
Criança a bordo:
- Para começar, vá para lugares que já conheça, onde não tenha obrigação de “turistar” e saiba que vai encontrar tudo o que precisa para um bebê (fralda, leite em pó, atendimento médico etc). No nosso caso, começamos por Punta del Este e Montevidéu, lugares onde íamos sempre, pois morávamos em Jaguarão. Assim não se mistura a ansiedade da viagem com a primeira viagem com criança.
- Viaje com todas as vacinas feitas e com kits de remédios.
- Leve um carrinho confortável. O nosso era bem grande, já que às vezes ficávamos horas em museus e restaurantes e o Felipe ficava ali tranquilo, dormindo ou brincando.
- Nunca nos preocupamos em seguir rotinas, horários rígidos, mas só em deixar o Felipe bem confortável.
Para acompanhar nas redes sociais: @felipeopequenoviajante e @claudiarodriguespegoraro