Na semana passada, publiquei a primeira parte de um texto com dicas de visitação a parques do Estado (Turvo e Lagoa do Peixe), pensando na melhor época para visitá-los.
Quem leu já viu observações e considerações gerais: cada período do ano tem sua beleza. O jeito é ir várias vezes. Aqui vai a segunda e última parte, com mais três locais.
Parque Natural Municipal Pedra do Segredo
- Onde fica: em Caçapava do Sul, a 260 quilômetros de Porto Alegre e a 11 da cidade.
- Área: cinco hectares, administrados pela empresa Tuna Ecoturismo.
- Ingresso: taxa de R$ 10. De terça a domingo, das 9h às 18h.
- Facilidades: camping, serviços higiênicos, cozinha comunitária e churrasqueiras. Não há lanchonete, mas pode-se comprar água e suco. Tem trilhas e circuitos de diversos níveis, cavernas e monumentos geológicos, mais de 20 vias de escalada e pontos de rapel.
- Informações: pedradosegredo.com.br, @pedradosegredo.oficial e pelo WhatsApp (55) 99955-1659.
A Pedra do Segredo é uma rocha de 120 metros de altura e 550 milhões de anos localizada em Caçapava do Sul, a capital da geodiversidade do Estado e em processo de certificação como Geoparque da Unesco, título para áreas com patrimônio geológico único, associado ao desenvolvimento sustentável.
O parque pode ser visitado em qualquer estação, mas o outono e a primavera são mais amenos, embora os dias ensolarados de inverno costumem ser propícios para caminhadas longas, além de a estação ser a mais procurada para escalada em rocha e rapel, observa Jackeline Moreira, gestora do parque:
— Na primavera, ocorre a brotação e a floração de boa parte das espécies, o que modifica a paisagem.
Há no parque espécies vegetais raras, com atenção para duas: a Pavonia secreta Grings e a Parodia rudibueneckeri. Descrita em 2011 por Martin Grings em pesquisa de mestrado, a primeira é um arbusto com flores de coloração rosa-forte e folhagem verde-esbranquiçada que surge sobre frestas das rochas ou em pequenos acúmulos de solo.
"O parque é muito importante para a preservação desta espécie, de ocorrência tão restrita e ameaçada" escreve Grings, biólogo e doutorando em botânica pela UFRGS.
Já a Parodia rudibueneckeri é uma espécie de cacto exclusiva do Bioma Pampa, só encontrada em paredões rochosos. Tem o corpo coberto por espinhos brancos e flores amarelo-claro.
— É belíssima de se contemplar na natureza. Por serem tão raras, essas espécies sofrem ameaças como a coleta ilegal — diz Rosana Farias Singer, doutora em biologia vegetal pela Unicamp e pesquisadora do Jardim Botânico de Porto Alegre.
A primavera é o período mais propicio para avistar animais silvestres — há veados, tatus, graxains, tamanduás, gatos-do-mato, quatis, cutias — e a estação mais procurada por observadores de pássaros. No inverno, o parque e´ requisitado para avistamento noturno —devido à ausência de poluição luminosa, Caçapava é um dos melhores lugares para se observar o céu no Brasil.
Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral
- Onde fica: em Cambará do Sul (RS), a 200km de Porto Alegre, e Praia Grande (SC).
- Área: os dois parques somam mais de 30 mil hectares, são geridos pelo ICMBio e os serviços de apoio à visitação foram concedidos à Urbia Cânions Verdes.
- Ingressos: há três áreas de visitação — Itaimbezinho (terça a domingo), Fortaleza (todos os dias, exceto às terças), que podem ser acessados com um só ingresso (R$ 50 para um dia e R$ 80 para dois dias), e Rio do Boi. Como a duração da trilha do Rio do Boi é de sete horas e exige acompanhamento de guia, a partir da Praia Grande, não pode ser combinada com os dois cânions.
- Facilidades e sugestões: a estrutura está sendo melhorada desde o ano passado, com sinalização, serviços de alimentação, higiene, aluguel de bicicleta, etc. No Itaimbezinho, há duas trilhas (Vértice, duração de 1h30min, e do Cotovelo, 3h). No Fortaleza, são três: Pedra do Segredo e Mirante, ambas de 1h, e a da Borda Sul, com 3h.
- Informações: canionsverdes.com.br
Os Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral têm uma geografia particular, e seus cânions e trilhas atraem milhares de turistas. Qual a melhor época para visitá-los? Ainda que haja características específicas, José Júnior Ramos Mota, turismólogo da Urbia Cânions Verdes, faz a seguinte descrição:
— Em parques naturais, não há regras estritas sobre períodos de se visitar. Cada estação ou turno do dia tem algo a revelar. Em épocas mais frias, há maior chance de céu aberto. Mas não quer dizer que no verão não tenhamos dias com alta visibilidade. Fora que a amplitude climática, por conta da geografia vertical das fendas, não nos permite prever qual será o mês com maior incidência de nevoeiros. No verão, a incidência de nuvens é maior, mas ainda assim é uma bela experiência ver a nuvem subir pelas encostas lentamente até ter a nítida sensação de que estamos "dentro" dela. Os cânions têm sua beleza nos 12 meses do ano.
Sobre a vegetação dos parques, Daniel Gigante, biólogo e líder de operações da Urbia, explica que ela é exuberante em todas as épocas, muito pela presença da mata densa de araucárias.
—Há ainda o colorido das quaresmeiras nos paredões no outono, o efeito ondular nos campos com o vento no inverno, a explosão de cores das flores do campo na primavera e as floradas do brinco-de-princesa no verão — diz ele.
Para avistar a fauna — cerca de 300 espécies de aves entre residentes e migratórias, onça-parda, veado-campeiro, entre outros — ele alerta que os visitantes precisam ser silenciosos e contar com a sorte.
Estação Ecológica do Taim
- Onde fica: entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, a 360 quilômetros de Porto Alegre.
- Área: criada em 1986, tem 32.806,31 hectares.
- Ingresso: não há cobrança e qualquer um pode desfrutar da paisagem a partir da BR-471, caminho para o extremo sul do RS e o Uruguai.
- Informações e agendamentos: esec-taim.rs@icmbio.gov.br. No contato, o visitante pode manifestar o interesse em fazer o passeio com auxílio de guias locais, que não têm vínculo com a estação.
Ana Carolina Cotta de Mello Canary, chefe da Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim) avisa desde logo:
— O Taim é um ambiente de fácil visualização. Já da rodovia BR-471 é possível ver uma grande diversidade de aves, jacarés e capivaras.
Ainda não existem mirantes para fazer essa observação e é preciso cuidado ao parar o carro para admirar as belezas, mas há projetos para que sejam criados. Por enquanto, no entorno da unidade de conservação, quatro trilhas podem ser percorridas com monitores locais ou de forma independente.
Capilha: trilha histórico-cultural onde se conhece a comunidade de pescadores, a estrada Real e a Capela de Nossa Senhora da Conceição, além da praia da Lagoa Mirim e suas falésias para assistir o pôr do sol. Duração de 1h30min.
Tigre: aqui é possível observar o sistema de banhados e áreas alagadas, assim como aves, capivaras, jacarés e outros animais. O trajeto é feito a pé e dura 2h.
Das Flores: percorre a Lagoa das Flores e ecossistemas associados _ dunas, campos, banhados, arroios, mata nativa e fauna. Parte do trajeto é feito de ônibus, intercalado com pequenas caminhadas. Dura 2h.
Das Figueiras: trilha em área privada onde se avistam figueiras centenárias, bromélias gigantes e aves. Duração de 1h30min.
Da mesma forma que nos demais parques, a chefe da ESEC Taim diz não haver uma época mais apropriada para visitar o local:
— Cada estação tem um cenário diferente. No inverno podemos ver facilmente os jacarés ao sol, diferentes tipos de marrecas, cisnes. Na primavera, há uma grande diversidade de aves em reprodução. O Taim é cheio de vida sempre, em qualquer época do ano.
Ela ressalta a importância da estação para a conservação de aves e lembra que, em 2017, houve um reconhecimento internacional do Taim como importante área úmida, recebendo o título Ramsar. Anualmente, são recebidos na sede cerca de 2 mil visitantes. Ali é possível conhecer o museu e assistir um vídeo sobre a unidade de conservação.