As variáveis para se escolher a melhor data para uma viagem ou visita a um lugar turístico encheriam uma página inteira: férias do trabalho, período letivo, distância, condições financeiras, disponibilidade da parceria... Mas você costuma considerar as condições climáticas ou a época do ano quando decide ir ou não a um determinado lugar? Eu, confesso: mais de uma vez fui vítima da imprevidência. Em outras, contei com confluência de astros incrível: resolvi comemorar um aniversário no Deserto do Atacama, experiência já descrita na coluna, tendo como principal atividade um tour astronômico, sem considerar que o melhor seria fazê-lo logo após a Lua Nova. Só fui conferir depois de tudo agendado e, de fato, os astros se alinharam para a minha festa. Pura sorte.
Voltei a pensar nisso ao visitar os cânions da região dos Aparados, aqui no Estado. E por isso elenquei cinco parques naturais no Rio Grande do Sul (hoje vão dois e, na próxima semana, mais três), considerando, inicialmente, o melhor momento para visitá-los. Como se trata de natureza, porém, na apuração deste texto, como eu poderia ter previsto, quem deu informações me colocou no meu devido lugar: cada época tem prós e contras, mas, principalmente, tem sua beleza particular.
Turvo
Se perguntar à secretária da Indústria, Comércio e Turismo de Derrubadas, Angelita Bomm dos Santos, a melhor época para visitar o Parque Estadual do Turvo, ela dirá: sempre! É que muita gente, observa Angelita, pensa nele só como a área onde fica um dos maiores saltos longitudinais do mundo, o Yucumã, com 1,8 mil metros de extensão, cuja visibilidade depende da vazão da água, conforme a época do ano, e que sofre a interferência da Usina Foz do Chapecó.
– Qualquer época é boa e agradável. No inverno, sobre as pedras, se tiver sol, é maravilhoso. O que interfere na visibilidade das quedas é a chuva, mas o parque é muito mais do que Yucumã – defende Angelita, que praticamente nasceu no Turvo, já que o pai trabalhava como guarda-parque. – Há fauna e flora exuberantes, beleza, sensação de paz e de pureza – acrescenta.
Da fauna, Angelita destaca animais como a harpia e a onça-pintada (um dos registros mais divulgados é de um turista, em agosto de 2021, quando um animal atravessava as cachoeiras). O local é paraíso para observadores de aves e para quem gosta de trilhas – há três, com grau de dificuldade de fácil a médio. Em 2020, ficando só 101 dias aberto, em função da pandemia, recebeu 30 mil turistas de 18 países. Estado e município têm a gestão compartilhada do Turvo desde 2019 e ele está na lista dos parques que podem ser concedidos à iniciativa privada, com leilão marcado para o final deste mês.
Detalhes e dicas
- Onde fica: no Noroeste do RS, a cerca de 500 quilômetros da Capital, e a 4,5 quilômetros, por estrada asfaltada, do centro de Derrubadas. Carros podem circular pelas estradas de terra do interior do parque.
- Área: maior unidade de conservação estadual, tem 17.491 hectares.
- Ingressos: R$ 20,45 e podem ser adquiridos online. Funciona de quinta a segunda (das 8h às 16h, com permanência até 18h).
- Sugestões: no local só há um food-truck com lanches e venda de suvenires de artesãos locais, além de mostra de biodiversidade no centro de visitantes. Na cidade funciona um centro de informações turísticas no qual, além de o turista receber dicas de atrações, incluindo cafés coloniais, há réplicas da flora. Em função da distância e do tempo mínimo para visita (três horas), considere hospedar-se em cidades como Tenente Portela, a 17 quilômetros. Outra dica é combinar com visita a Ametista do Sul (93 quilômetros) ou São Miguel das Missões (250 quilômetros).
- Informações: (55) 99918-3006 e turismoderrubadas.com.br. Há indicações de visibilidade do salto em redes sociais.
Lagoa do Peixe
Criado em 1986 para proteger a área que recebe aves migratórias e o ecossistema litorâneo do Estado, fica entre a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico. A Lagoa do Peixe que dá nome ao parque nacional é uma laguna rasa, com 60cm de profundidade, 35km de comprimento e 2km de largura, berçário de espécies como o camarão-rosa, a tainha e o linguado. Reconhecido internacionalmente pela importância de seu ecossistema, o principal atrativo do parque é a observação de aves – já foram catalogadas mais de 270 espécies.
O biólogo Marcelo Nunes Alves, bolsista de monitoramento da Lagoa do Peixe há quatro anos, observa que o melhor período para visualizar os animais é entre setembro e maio, principalmente no caso das aves migratórias que vêm do Hemisfério Norte. Nessa época, o clima é mais ameno e os acessos ficam menos prejudicados:
– Setembro e outubro são o auge, pois as aves são as protagonistas. É um período bem interessante. O final de abril também é bacana, quando algumas espécies se reúnem para voltar para casa.
Já o inverno, lembra ele, é a época das aves migratórias do Hemisfério Sul, como o flamingo, ave símbolo do parque, e pode-se avistá-los em maior quantidade. Às vezes, há centenas deles em locais como a barra da Lagoa do Peixe e a Trilha da Figueira, os melhores lugares para observação. Os visitantes incluem observadores de aves, mas há público bem genérico, principalmente grupos de aposentados em busca de contato com a natureza.
Mais informações
- Onde fica: entre Tavares, Mostardas e São José do Norte, no litoral do RS, a cerca de 250 quilômetros da Capital e a 25 quilômetros do centro de Mostardas. Acessos pela Estrada das Dunas, a partir da Avenida Central de Mostardas, sem grandes dificuldades. Já a Estrada do Talhamar, no inverno, em períodos mais chuvosos, fica prejudicada.Área: 36.721,71 hectares.
- Ingresso: não é cobrado. Não há controle de visitantes nem visitas guiadas, a não ser por guias locais contratados por turistas. A sede funciona de segunda a sexta-feira, em horário comercial e, no local, há quadros com informações gerais e maquete feita por artesão local – visitantes que passam ali costumam também assinar um livro de presença.
- Informações: (51) 3673-2435.