Já se disse muita coisa sobre o empreendimento que começou a surgir, a partir de junho de 2020, ao largo de um trecho da ERS-235, a estrada que liga São Francisco de Paula, nos Campos de Cima da Serra, a Canela. Era quase um mistério. Só há poucos dias um outdoor no Km 68 da rodovia anunciou a chegada, prevista para 26 de novembro, do Mátria Parque de Flores, uma espécie de jardim botânico com centro de lazer e gastronomia que emerge aos poucos na área de 135 hectares antes ocupada por uma propriedade rural e há anos à venda. Um outro tanto das formas a neve se encarregou de revelar na semana passada.
Para começar, é bom explicar o nome: "mátria" é relativo à mãe ou materno, e a ideia dos proprietários, os irmãos Amanda, 26 anos, e Fernando Piazza, 29, é fazer a conexão da denominação também com a "mãe natureza", com a terra. Nascidos em Chapecó (SC), os irmãos têm trajetórias distintas, mas o parque é um sonho comum: Fernando é economista, pós-graduado em gestão de negócios imobiliários e toca as empresas da família sediadas em Balneário Camboriú; formada em Antropologia com ênfase em Psicologia nos EUA, Amanda cursa Medicina na Humanitas University em Milão e agora, com a pandemia e o projeto, está transferindo o curso para uma universidade em São Paulo.
A ideia inicial, aliás, já que a família possui cidadania ítalo-brasileira, era instalar um parque do gênero próximo ao Lago di Garda, na Itália, inspirados pelos jardins que enxergavam nas viagens de motorhome pela Europa, mas o longo e rigoroso inverno do norte italiano e eventuais dificuldades burocráticas desviaram o projeto para a serra gaúcha, que a família catarinense frequentava desde sempre.
O sonho de Amanda, de Fernando e da empresa familiar é grande: um investimento de R$ 25 milhões e geração de cerca de 100 empregos, considerando também as cinco operações gastronômicas, quatro delas com parcerias (restaurante, cafeteria, pizzaria, casa de chá e dois tipos de piquenique). A estrutura do parque vai contar ainda com uma loja de 400 metros quadrados para venda de plantas, decoração, produtos regionais e artesanato.
Mas as estrelas mesmo serão as flores e plantas que se esparramarão pela área em 20 diferentes jardins: um estudo da topografia e da flora determinou a escolha do que será usado no repovoamento ou no plantio de espécies vindas de fora adaptáveis ao clima, incluindo ornamentais, de sombra e frutíferas. Trezentas espécies já foram plantadas e só um roseiral, com material genético vindo da Alemanha, já tem 22 mil mudas. Ele é que dará as boas-vindas aos visitantes. Caminhos de saibro delineiam os jardins e ali, mais do que permitido, será incentivado pisar na grama. Um agrônomo e um técnico agrícola acompanham o trabalho com as plantas e a execução do projeto de paisagismo, criado por um escritório de Florianópolis.
Quem anda pelo "canteiro de obras", com 50 pessoas trabalhando em ritmo de abelhas em colmeia, já consegue vislumbrar, entre estufas de berçários e caminhos, o lago e uma grande borboleta que ganhará flores brancas e cuja história tem contornos místicos. Amanda conta que uma borboleta resgatada e alimentada por ela aos cinco anos é sua primeira lembrança de infância. Ela atribui ao momento mágico seu amor à natureza e o interesse por salvar vidas. Numa das primeiras visitas ao local do parque, antes da aquisição, uma revoada de borboletas brancas na mata de araucárias ajudou a selar o formato de uma das principais esculturas de flores. Longe dos pais para os estudos, Amanda estabeleceu sua conexão com eles fazendo dos lugares onde morou pequenos jardins. Tanto ela quanto o irmão dizem que, mais do que um negócio e um empreendimento turístico, o parque é um projeto de vida.
— Mesmo morando em Milão, uma cidade grande, sempre que podia eu saía para acampar, fazer trilha. Estar junto à natureza é o que me sustenta. Morar e estudar fora já foi um sonho, mas o parque é o meu sonho agora. Estamos colocando nossa alma nesse projeto — explica Amanda.
— Como empresário, está sendo desafiador, pela proposta de inovação. Ao mesmo tempo estamos vivendo momentos de muito aprendizado. No âmbito pessoal, o conhecimento adquirido na caminhada, as parcerias, e a percepção de saber o que vamos proporcionar, não só para a cidade, mas para a região, me faz acreditar que estamos no rumo certo, indo ao encontro do nosso propósito que é ser um parque de referência para transformar a vida das pessoas — diz Fernando.
O parque
- Fica em São Francisco de Paula, a 900 metros de altitude, às margens da ERS-235, rodovia que liga a cidade a Canela.
- O investimento é de R$ 25 milhões.
- Ocupa uma área de 135 hectares. Na etapa inicial do projeto 500 mil metros quadrados de área serão ajardinados.
- Mais de 300 espécies de flores e árvores já foram plantadas. No total, serão 2 milhões de mudas de flores, um roseiral com 22 mil mudas, 12 mil árvores e um túnel de 102 metros de extensão de glicínias. Vinte quilômetros de equipamentos automatizados cuidarão da irrigação.
- Estão previstos oito quilômetros de caminhos entre os jardins e quatro quilômetros de trilhas autoguiadas na mata.
- O boulevard de acesso terá 1,8 mil metros quadrados e funcionará como um paradouro, com acesso livre aos visitantes. Já a entrada para o parque será cobrada, mas ainda não há valores definidos.
- Haverá cinco operações gastronômicas, incluindo dois tipos de piqueniques _ um deles, uma espécie de piquenique de luxo, com uso de louças e cristais, será cuidado pessoalmente por Amanda Piazza. Os outros terão operadores terceirizados.
- A inauguração deve ocorrer em 26 de novembro.
- O projeto paisagístico é do escritório JA8, de Juliana Castro, de Florianópolis, e o projeto arquitetônico é de Nicholas Alencar, da Alencar Arquitetura, de Blumenau.