O inverno funciona como um ímã para turistas gaúchos e visitantes de fora: é sinônimo de Serra. Mas você já pensou no Litoral Norte como destino na estação fria? A ideia é visitar o interior de alguns dos 22 municípios da região, vivenciar o turismo rural e praticar esportes de aventura. É nesse tipo de atividade que está empenhada a Associação do Turismo do Litoral Norte (AtlNorte), preocupada em atrair visitantes fora do verão.
— A sazonalidade é um problema. Temos de ter estrutura para receber 2 milhões de pessoas no veraneio e depois mantê-la o resto do ano sem turistas — diz Flávio Holmer, presidente da AtlNorte.
Quem for até a Encosta da Serra Geral não vai se decepcionar com a paisagem em qualquer época, garante Holmer: próximo do mar, há cânions, cascatas e clima de montanha, em meio à Mata Atlântica.
Caraá
Se tivesse de eleger uma entre as atrações desse município de 8,3 mil habitantes, Joelma Fernandes, diretora do Departamento de Turismo, Cultura e Esporte de Caraá, escolheria a Nascente do Rio dos Sinos, ressaltando que a cidade é conhecida como o "Berço das Águas". É ali que fica uma trilha de duas horas de duração, de média para alta dificuldade, em uma área de preservação ambiental, que termina na maior queda d'água do caminho, com 120 metros de altura. Por enquanto, ela só pode ser feita com grupos reduzidos, seguindo os protocolos de saúde.
Há muitos outros trajetos possíveis de percorrer, entre eles o do Morro da Teta e o do Mato, em Alto Lajeadinho. Joelma e sua equipe, aliás, querem concluir até o final do ano um levantamento de todos os roteiros, meios de hospedagem e atrativos, com ênfase no turismo rural. É que são os pequenos produtores de hortifrúti, a base da economia local, que podem mostrar o que há de melhor para os visitantes.
— O potencial do turismo é enorme e pode ficar em pé de igualdade com a agricultura —projeta Marco Vinicius de Fraga Teixeira, secretário de Agricultura, Fomento, Turismo e Meio Ambiente.
No interior, tem vinícola, alambique, produção de rapaduras e almoço colonial em várias propriedades - em algumas é possível participar da rotina, tirar leite, produzir geleias, colher mel e comer frutas tiradas do pé. Em outras, como no Ecosítio Oremã, há cursos de agrofloresta, horta e bioconstrução. Opções de hospedagem são mais de 20, diz Joelma.
Mampituba
A pandemia deu uma travada no turismo de experiência que um roteiro rural chamado Cantos e Contos da Estância propicia, mas parte dele pode ser feito em segurança, garante o empresário e diretor de Turismo do município, Vilson José do Nascimento Júnior, o Juninho. A proposta é uma imersão na cultura gaúcha e no tropeirismo.
— É uma viagem no tempo — resume Juninho.
Primeiro, a visita pelo interior mostra a importância da geologia da região, aspirante a Geoparque (projeto que engloba sete municípios, incluindo Mampituba). Depois, na comunidade Roça da Estância, há a visita ao Sítio Cultural Museu da Estância, para apreciar o acervo, participar de roda de chimarrão (por enquanto suspensa), de apresentação de música e de um momento de artesanato: o visitante confecciona seu próprio suvenir.
Dali, o turista é levado ao Café com Mistura, na mesma comunidade, para um "café reforçado", com produtos coloniais. O roteiro é feito em uma Kombi antiga, apelidada de Dolores, que não comporta grupos - a ideia é levar só casais ou famílias.
Para depois da pandemia, uma nova experiência está sendo formatada: em cada propriedade, o visitante poderá produzir e levar um alimento típico, como pão de milho na panela ou rosca de polvilho. Um parque de aventuras e duas pousadas estão em construção (há pelo menos outras quatro disponíveis: Cachoeira dos Borges, Pousada do Belvedere-Sítio Ramos, Refúgio do Campanário e Vó Mara) no município de 3 mil habitantes que tem a agricultura como carro-chefe, mas quer o turismo como alternativa.
Morrinhos do Sul
A produção de orgânicos, desde o início dos anos 1990, está na raiz do turismo sustentável de Morrinhos do Sul. Em 2016, um grupo de produtores fez um curso para desenvolver o turismo rural, para os visitantes conhecerem as propriedades e consumirem seus produtos. Os frutos estão sendo colhidos.
— Estamos recebendo muitos turistas, e a comunidade se motiva — entusiasma-se a secretária de Turismo, Jucelaine Evadt de Medeiros.
No interior do município de 3 mil habitantes, propriedades como Recanto do Vô Ilário, Recanto Beira Rio, Sítio Via Láctea, Recanto das Pitayas, Pousada do Padre e Recanto Sobragi se esmeram em oferecer gastronomia local e, na maioria, também hospedagem a interessados em caminhadas, rapel, cicloturismo e até voos de balão. A paisagem dos cânions e da Trilha dos Tropeiros impressiona, e é nesse contato com a natureza que apostam empreendedores como Nílvia Boff Pinto, do Recanto Sobragi. Nessa comunidade, a Tajuvas, há um complexo com quatro cânions e o Sobragi funciona como ponto de apoio.
— Virou meca de trilheiros. Só na fenda que desce na nossa propriedade há 11 cascatas — descreve Nílvia.
Não é preciso ser aventureiro para percorrer o caminho, basta ser adepto de exercícios físicos. Em sete horas, ida e volta, chega-se ao primeiro dos três cumes do Tajuvas. Os mais afoitos levam equipamento e posam nas bordas do cânion para apreciar o nascer do sol. Quem não é dado a esforço percorre os quilômetros iniciais na "Jiposene", um Jeep Willys 1956 adaptado. Há outros roteiros como o Morro do Costão, Serra do Chapecozinho, Morro do Céu e o Bico do Morro do Forno.
Detalhe GZH
Para qualificar o Turismo Rural
A Câmara Temática de Turismo Rural promove seis encontros para qualificar estabelecimentos que se dedicam à atividade no RS - há mais de 300 cadastrados. Os eventos online, ao vivo e gratuitos serão na última quarta-feira do mês, entre junho e novembro, com relatos de empreendedores e qualificação com especialistas. O primeiro será amanhã (30), das 14h às 17h: "O bem receber e os Protocolos de Segurança - como criar o protocolo próprio", com Aline Moraes (Senar), e "Turista Cidadão & Turismo de Proximidade - o foco no público local e regional", com Fernanda Carvalho.
Inscrições: gzh.rs/turismo-rural