Se buscar nas suas origens, Paulo Hafner consegue entender e explicar o porquê de cavalos e cavalgadas terem ganho uma importância tão grande a ponto de se tornarem um estilo de vida e um negócio. As primeiras fotos revelam um bebê de 20 dias no colo de um tio, montado a cavalo, na fazenda do avô, em São Francisco de Paula. Em 1960, sua cartilha de alfabetização também ostentava um título premonitório: “Upa, Cavalinho!”. Era só, mesmo, uma questão de tempo.
Na Campofora – que ele e a esposa Ângela criaram há 29 anos para proporcionar vivências sobre o lombo de cavalos a turistas-cavaleiros novatos ou experientes –, Hafner calcula o tempo passado cavalgando em “horas-bunda”: de 15 a 17 dias por mês, com média diária de sete horas o que, arredondando, equivale a 37,8 mil “horas-bunda”.
A ideia de proporcionar a turistas não apenas passeios, mas experiências a cavalo, surgiu, em boa parte, graças às páginas de ZH, conta ele. Em 1992, o publicitário nascido no bairro Moinhos de Vento, na Capital, era o responsável pelo marketing da Associação Brasileira de Criadores do Cavalo Crioulo (ABCCC) quando resolveu organizar três cavalgadas (no RS, em SC e no PR). A ideia era divulgar a raça e mostrar que, como no resto do mundo, a maioria das pessoas montava só por prazer, e não para competir, com cavalos emprestados pela própria ABCCC – Ângela, a esposa e sócia, montou pela primeira vez naquela ocasião. A cobertura jornalística rendeu cerca de 300 telefonemas de interessados, em uma semana, e o contato de órgãos oficiais ligados ao turismo. Seria a primeira cavalgada da Campofora, que já soma 17 mil clientes. Hafner diz:
— Aprendemos como fazer de forma autodidata, tanto a lida com os cavalos quanto o turismo, já que não havia de quem copiar. Só existiam eventos tradicionalistas ou religiosos. Mas nossa proposta sempre foi mostrar uma vivência a cavalo e não um passeio a cavalo, proporcionando a integração com o animal e com a paisagem.
O casal urbano aos poucos foi se (re)aquerenciando nos Campos de Cima da Serra, onde já tinha um sítio, em São Chico, e passou a morar em 1996. Em 1999, Hafner abandonou a comunicação e Ângela largou a engenharia. Há 15 anos, ele recomprou a casa da fazenda do avô, Walter Jorge Herrmann, a Taquaruçu. Como ali o terreno tem apenas um hectare, eles arrendam uma área para manter os 30 cavalos crioulos – o mais velho deles, Thor, tem 25 anos e já foi figurante na novela global Chocolate com Pimenta; o mais novo, Aromo, tem seis anos.
A Campofora chegou a oferecer cinco roteiros, mas, na pandemia mantém apenas um, em São José dos Ausentes. Quando as coisas se normalizarem, a intenção é reativar outros dois: em Caçapava do Sul e no Uruguai, a partir de Livramento/Rivera.
Mas o que é mesmo essa vivência/experiência?
As cavalgadas são de pelo menos três dias/noites pela exuberante paisagem de Ausentes, entre campos, rios e cânions, com hospedagem em fazendas e pousadas quase exclusivas. Hafner, 68 anos, acompanha o grupo a cavalo, sempre com um cavaleiro/guia local. Ângela, 63, vai num carro de apoio, levando bagagens e o que mais for necessário. Passam, em média, sete horas por dia cavalgando, com paradas para comer, observar e fotografar. Em geral, em 85% do tempo o grupo vai “a passo”, em 10% “a trote” e muito pouco a galope.
A pandemia interrompeu os roteiros por um tempo. Depois, voltaram, pois, além de estarem ao ar livre durante o dia, a distância mínima entre os cavaleiros, naturalmente, é de dois metros; nas pousadas, as salas de refeições são amplas e todos os protocolos exigidos são seguidos, diz Hafner.
Mesmo em grupos heterogêneos (no máximo são 10 pessoas), quem faz a integração do grupo é o cavalo, conta Hafner. É em torno dele que giram as conversas após um dia emocionante, mas cansativo (eles desistiram de organizar eventos e saraus noturnos, porque, após o jantar, todo mundo cai de sono). O dia cavalgando pode ser exaustivo, mas a experiência, não. Há, entre os turistas de 45 países diferentes, quem já a tenha repetido 30 vezes.
Por que o cavalo crioulo
Descendente do andaluz, que os espanhóis trouxeram para a América, o cavalo crioulo se espalhou pelo pampa argentino, pelo gaúcho e pelo Uruguai. Originalmente usado para ajudar na lida com o gado, tem como características a resistência, a rusticidade e a docilidade.
— É um animal tranquilo para quem nunca montou e disposto para quem sabe montar — define Paulo Hafner.
Uma boa justificativa para a escolha também seria o fato de, desde 2002, o cavalo crioulo ser o animal-símbolo do RS. Cerca de 85% dos animais da raça no Brasil são do Estado.
Fonte: Paulo Hafner e site da ABCCC
PONTO A PONTO
Um roteiro básico por Ausentes
- Para viver a experiência, a sugestão da Campofora é a cavalgada de três dias (com três noites de hospedagem);
- Não é preciso saber montar. Antes de começar a jornada, é dada uma orientação básica para todos;
- Ao longo dos três dias, são percorridos entre 100 e 110 quilômetros a cavalo (cerca de 20 horas cavalgando);
- A bagagem dos cavaleiros vai em carro de apoio e o grupo é acompanhado por Hafner e por um guia local;
- Para dar mais chance à visão dos cânions sem neblina, a hospedagem ocorre em dois locais diferentes;
- Informações pelo fone (54) 99971-4000 ou e-mail campoforadesde1992@gmail.com