Estão lá os condes Cora e Robert e suas filhas Mary e Edith. Estão lá Tom, Violet e Isobel. Estão lá Carson, Mrs. Hughes, Bates, Anna, Barrow, Mrs. Patmore e Daisy. Estão todos lá no eterno embate entre o andar de cima e o andar de baixo da mansão chamada Downton Abbey, a propriedade que a família Crawley tenta manter com toda a pompa de um passado cada vez mais remoto no início do século 20. Na série de TV, a história começa em 1912 e se encerra em 1925, após seis temporadas. No filme de 122 minutos, que estreia nesta quinta-feira (24) nos cinemas, começa em 1927 e termina em poucos dias – antes, durante e depois da visita real à casa dos Crawley, o mote da produção.
Todos eles, preciso confessar, me acompanham desde abril de 2013. Eu os via na TV a cabo e os esperava uma vez por semana. Depois, passaram a povoar a estante em formato de DVDs, comprados à medida que iam sendo lançadas as novas temporadas e os assistia sempre que tinha vontade. Logo em seguida, a série ficou disponível nos serviços de streaming e aí a família Crawley e seus empregados passaram a ser minha companhia na Netflix e, mais recentemente, na Amazon Prime Video, onde estão agora. Ainda dou um alô a eles quase todos os dias para rever pelo menos um pedacinho de um episódio.
Comparação
O que quero dizer com isso é que fui assistir ao filme no cinema como fã incondicional, disposta a gostar de tudo o que visse e habilitada também a comparar série e filme (clique aqui se você quiser ver a opinião de Ticiano Osório, comentarista de cinema de GaúchaZH, que havia visto apenas alguns episódios da série). Quando disse que estão todos lá, os da série no filme, também queria dizer que são tantos os personagens que é difícil reconhecer protagonismos e estranho ver alguns deles, digamos, apagados (cadê a complexidade do Mr. Bates?). Também é esquisito não estarem ali Rose (a sobrinha do conde, presente da terceira à última temporada) e o Dr. Clarkson, tão importantes nas tramas.
Os dilemas, a luta de classes, os conflitos de monarquistas e republicanos, os pequenos (e grandes) avanços tecnológicos seguem presentes.
Mas algumas coisas não mudam, da série para o filme: Edith, que acabou a sexta temporada com o casamento perfeito, virou marquesa e tudo o mais, continua sofrendo em longa-metragem. O protagonismo das mulheres, ainda mais considerando o contexto, sugere que o mundo poderia ter caminhado mais rápido nesse quesito. O que não se modifica (e avançaria muito pouco, como sabemos) são os preconceitos, especialmente contra os homossexuais – Barrow que o diga.
O mais divertido – na série, de forma mais natural, no filme, um pouco forçada – são as disputas e frases de efeito de Violet, a condessa viúva (Maggie Smith), e Isobel (Penelope Wilton), em todas as situações, do primeiro jantar ao baile (a propósito: preste atenção ao baile e me diga se ele não lembra uma cena de um famoso programa infantil!).
Cuidando para não ultrapassar o limite e estragar seu deleite com spoilers, quero dizer que Mary está ainda mais bonita, a mansão da família parece mais imponente e a monarquia britânica, se depender de Downton Abbey, seguirá firme por muito tempo.