Não é a primeira vez que escrevo sobre isso – entre redações escolares e textos jornalísticos, já perdi a conta. É que eu juro de pés juntos lembrar exatamente como foi o 20 de julho de 1969. Estava a dois meses de completar seis anos e eu mesma me pergunto como pode estar tão viva na minha lembrança aquela cena. Muitos duvidam.
Vou contar de novo: meu pai havia comprado nossa primeira TV. Era uma Philco a válvula, preto e branco, com uma caixa de madeira gigante. Era um luxo para poucas pessoas numa cidade do Interior. Meu pai tinha achado que merecíamos, e que cabia no orçamento, aquela TV, já mirando a Copa de 1970 no México – quem poderia querer, afinal, perder os jogos da Seleção?
Acompanhava o aparelho uma mesa de dimensão um pouco maior, com tampo de madeira, estrutura de metal e rodinhas, o que permitia ao móvel/aparelho transitar pela casa. Ele ficava na sala nos momentos solenes, na cozinha nos dias frios, no quarto em caso de alguém estar doente (sim, naquele tempo havia uma TV só, mesmo numa casa onde viviam oito pessoas; compartilhar era preciso).
Essa última situação era a daquele 20 de julho. Meu irmão mais novo estava com sarampo, catapora ou alguma outra doença do gênero. E aí, eu, como acompanhante, também tinha direito a ficar dentro de casa, me espreguiçar na cama até tarde, tomar guaraná e assistir à TV, sem preocupação com contágio e sem companhia dos adultos, ocupados com trabalho e outros afazeres.
E é assim que eu lembro de ter visto, daquele caixote de madeira espremido na porta do quarto, a cena dos astronautas descendo da Apollo 11 e pisando na Lua. A cena é viva na minha memória, ainda que digam que, pela minha pouca idade, talvez se trate de uma memória construída ao longo do tempo, dessas lembranças imaginadas nos casos de cenas que vemos e revemos.
Mas ninguém me convence do contrário. E nem de que o homem não pisou na Lua. Pisou, sim. Eu vi.