Já que vamos enfrentar os belgas nesta sexta-feira, nas quartas de final da Copa da Rússia, resolvi relembrar as pouco mais de 48 horas passadas em Bruxelas em abril de 2017, quando estava de férias em Amsterdã e peguei um trem para visitar a Bélgica.
As duas capitais estão separadas por uma viagem tranquila de cerca de três horas. Com pouco tempo, a hospedagem teria de ser estratégica, em hotel próximo à Grand Place, para poder fazer praticamente tudo a pé. É muito fácil de se locomover pela cidade que tem pouco mais de 1 milhão de habitantes. Confira um pouco do roteiro para esta série inspirada no 36 Hours, do New York Times.
1 - Carregando só uma mochila, cheguei caminhando da estação de trem, a Gare du Nord, até o hotel. Com a tarde já avançada, optei por um restaurante próximo para o almoço, o Drug Opera, um dos mais tradicionais pubs de Bruxelas, instalado num prédio do início do século 20. E começou ali mesmo a primeira de várias degustações da cerveja belga que, em 2016, recebeu da Unesco o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade - o país tem mais de duas centenas de cervejarias e cerca de 1,5 mil diferentes tipos da bebida, com uso de distintos tipos de fermentação.
2 - Tentando fechar os olhos para as vitrines das docerias (os doces árabes são um capítulo à parte) e chocolaterias, o destino óbvio era a Grand Place. No final da tarde, os detalhes em dourado das construções em estilo da Renascença flamenga, do século 17, ficam ainda mais vistosos. Não à toa ela é considerada uma das praças mais bonitas do mundo - denominação dada inclusive pelo autor de Os Miseráveis, Victor Hugo. Nos meus pouco mais de dois dias em Bruxelas, a vi muito lotada e quase vazia, e ela fica linda de qualquer jeito. O mesmo vale para Les Galeries Royales Saint-Hubert, próximo à praça. As galerias de abóbadas envidraçadas do século 19 que ainda abrigam cerca de 50 lojas, teatro, cinema e restaurantes. Em pouco tempo, vira uma espécie de passagem obrigatória para outras atrações. Calcula-se que passem sob as colunatas cerca de 6 milhões de visitantes por ano.
3 - Ao caminhar meio a esmo pelas ruas, à espera da abertura do Museu Magritte, acabei no encantador Jardin du Petit Sablon - um jardim de 1890, rodeado por 48 estátuas de bronze representando antigas profissões praticadas em Bruxelas - e na Igreja Notre Dame du Sablon, onde os grandes vitrais são o atrativo deste templo do século XV. É nele que está enterrada Santa Úrsula. Voltei ao museu, a essa altura já aberto, para admirar as cerca de 200 obras do pintor surrealista. É um museu fácil de visitar, com uma variedade enorme de produções do prolífico Magritte: desenhos, pinturas, aquarelas, cartazes publicitários, partituras, fotografias e filmes feitos por ele próprio. Sim, tem também uma lojinha irresistível, com objetos com representações de chapéus, pássaros e nuvens de Magritte.
4 - Como tudo para mim em viagem acaba tendo algum sentido, me diverti até num antigo "armarinho", a Maison Doreé (Chaussée d'Ixelles 14), que tem tecidos, acessórios para roupas e decoração inacreditáveis e está ali no mesmo endereço desde 1923. Na caminhada sem rumo, escolhi para o almoço desse dia o Le Clan des Belges (esquina da Sainte Boniface com Rue de la Paix), um restaurante daqueles que se costuma dizer "frequentado por locais", com comida boa, não muito caro e um ambiente que reproduz a década de 1920.
5 - Desse meu rasante por Bruxelas, dois destaques mais: o primeiro é Belgian Comic Strip Center, sobre o qual já escrevi aqui. O espaço dedicado ao cartum, instalado num edifício em estilo art noveau do início do século 20 abriu as portas como museu em 1989. Tem exposições permanentes e temporárias, mas dois de seus atrativos principais são os personagens Tintin e os Smurfs e seus criadores, respectivamente, os belgas Hergé e Peyo. O centro cultural, como é descrito em sua apresentação, faz um tributo aos pioneiros da arte do cartum contemporâneo.
O outro é o Parlamento Europeu, do qual Bruxelas é sede. Eu não tinha tempo para a visita guiada (é possível inclusive assistir a uma das sessões) e só circulei na área externa, mas dá para ter uma ideia de como funciona o local onde se reúnem os chefes de Estado da União Europeia, nesta cidade que é uma das mais cosmopolitas da Europa.
A propósito: se alguém lhe disser que Bruxelas é uma cidade sem graça, não acredite.