Envolvido com problemas internos, como a inflação alta, o dólar a R$ 6 e o juro prestes a subir de novo, o presidente Lula comemora neste final de 2024 uma conquista que parecia impossível: a assinatura do acordo Mercosul-União Europeia. Trata-se de uma vitória política indiscutível de Lula, que trabalhou pela formação do bloco nos seus dois mandatos anteriores, mas não conseguiu avançar o suficiente para chegar à assinatura só formalizada na última sexta-feira, em Montevidéu.
É uma vitória de Lula política ainda mais notável se considerarmos que o Mercosul foi dado como em estado de coma há um ano, quando Javier Milei assumiu a presidência da Argentina. Na campanha, Milei fez bravatas e mais bravatas. Uma delas era acabar com o Mercosul, outra era não negociar com comunistas, aqui incluída a China, que importa grãos e carne do Mercosul.
Gostem ou não os argentinos, a locomotiva da economia do Mercosul é o Brasil. Lula soube conduzir com os presidentes do Chile, Gabriel Boric, do Uruguai, Lacalle Pou, e do Paraguai, Santiago Peña, a unidade do bloco, para chegarem fortes à negociação com a União Europeia. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas a importância do acordo firmado em Montevidéu vai se mostrar nos próximos anos, principalmente se Donald Trump cumprir as ameaças que faz aos parceiros comerciais e aos adversários que escolheu combater.
Suponha-se que Trump cumpra a promessa de sobretaxar em 100% as importações dos países do Brics, outro bloco do qual o Brasil faz parte. Boa parte das vendas ficariam inviabilizadas. Ou se sobretaxar a China, por ser do Brics e porque é o país que ameaça tirar dos Estados Unidos o título de maior economia do mundo? Mercosul e União Europeia juntos podem não só enfrentar as medidas duras de Trump, como avançar no mercado chinês, sobretudo na exportação de alimentos.
Tudo indica que Trump está blefando, inclusive quando fala em mandar embora todos os imigrantes ilegais. Hoje, quando se compra uma roupa nos Estados Unidos, o mais comum é encontrar preso à costura um selo de “made in China, Vietnan, Bangladesh, India e outros países que fazem o trabalho para o qual falta mão de obra na América do Norte. Sem os imigrantes que não têm visto de trabalho, faltará quem execute outras tarefas na terra de Trump e essa soma de bravatas pode alavancar a economia da América do Sul, da China e da Europa.
Nos últimos anos, o Mercosul vinha andando para trás. A assinatura do acordo, depois de 25 anos, é um símbolo de ressureição. Mais ainda quando se tem em conta as cláusulas que protegem os interesses de cada país.