Agora que a eleição terminou e o momento se presta para balanços, já é possível dizer que o centro político ressuscitou. Há quem chame de centrão esse campo que tem áreas de intersecção com a esquerda e com a direita, mas os números são impactantes: o PSD, que no Rio Grande do Sul ainda é um partido minúsculo com apenas 12 prefeituras, saiu das urnas como o campeão do Brasil, com 887 prefeituras, entre elas cinco capitais.
O PSD é um partido moldável, que, por conveniência, ora se aproxima da esquerda, ora da direita. Nas principais cidades elegeu pessoas que não rezam pela cartilha do ex-presidente Jair Bolsonaro nem querem saber das políticas estatizantes da esquerda avessa a privatizações, parcerias público-privadas e mérito no setor público. É o caso, no Rio Grande do Sul, do prefeito Pedro Almeida, de Passo Fundo, um moderado por excelência.
O partido criado por Gilberto Kassab levou no primeiro turno a prefeitura do Rio de Janeiro, com Eduardo Paes. Neste segundo, conquistou Belo Horizonte. No Rio, Paes derrotou Alexandre Ramagem, o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência. Em Belo Horizonte, o prefeito Fuad Noman (PSD) derrotou Bruno Engler, uma criação do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), aquele que só falta pendurar uma melancia no pescoço para aparecer.
Não foi só o PSD que deu demonstração de força na eleição em que o grande derrotado foi o PT. O MDB ficou em segundo lugar e levou São Paulo e Porto Alegre, porque também é moldável — tanto que participou do governo Bolsonaro e ocupa cargos na gestão de Lula. Em terceiro vem o PP, campeão no Rio Grande Sul, partido que abriga filiados do centro à extrema-direita. Somem-se a esses as prefeituras conquistadas pelo PSDB, um partido em crise, mas que sobreviveu, e temos as provas de que o centro vive e não é, como dizem os radicais de esquerda e de direita, coisa de quem está em cima do muro.
Outros fenômenos do primeiro turno, como os prefeitos reeleitos de Recife, João Campos (PSB), e de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), são moderados que se elegeram pela gestão em suas cidades e não por vídeos engraçadinhos achincalhando com a política.
A pergunta que está na cabeça de quem pensa em 2026 é o que fará Kassab com esse patrimônio político. Emprestará sua força a um dos candidatos cotados para disputar o Palácio do Planalto ou apresentará um nome próprio, com o perfil que as urnas de 2024 disseram estar mais sintonizado com o eleitor? E o que fará Lula, depois da esfrega que seu partido levou neste ano? Buscará parceria com o centro, como fez em 2022, ao escolher Geraldo Alckmin como vice? Ou insistirá na aliança com o PSOL, que não trouxe bons resultados? Faltam dois anos para a eleição, mas as articulações já começaram.
PL consolida crescimento
Mesmo que o segundo turno tenha sido de derrotas em sete das nove capitais, o PL fechou as eleições de 2024 com o comando de quatro. Já havia conquistado Rio Branco (AC) e Maceió (AL) na primeira etapa, e ganhou Aracaju (SE) e Cuiabá (MT) no domingo. O feito é inédito para a legenda, que nunca comandou uma capital.
Os liberais também vão comandar, pela primeira vez, o maior número de prefeituras nas 103 cidades com mais de 200 mil eleitores — onde há segundo turno. O partido saltou de dois municípios para 16, incluindo as quatro capitais. Em segundo, o PSD comandará 15. Considerando-se o Brasil inteiro, o PL ficou em quinto lugar, com 517 prefeituras, atrás de PSD, MDB, PP e União Brasil.