Deitado em berço esplêndido, o governo do presidente Lula demorou para descobrir o que parecia óbvio aos olhos de qualquer um que não tenha interesses envolvidos na jogatina em que o Brasil se transformou nos últimos meses. Enfim, reconheceu que as chamadas bets não são essa coisa lúdica apregoada na propaganda, mas um problema nacional, pelo endividamento das famílias, pela redução do consumo de bens e serviços para tentar a sorte em jogos de azar e pela possibilidade de se criar uma legião de viciados em apostas esportivas.
O correspondente da RBS em Brasília, Matheus Schuch, informou na sexta-feira (20) que o Ministério da Fazenda está elaborando mecanismo para monitorar o endividamento das famílias brasileiras com as bets e outros tipos de jogos. A justificativa é a preocupação com o que o governo considera “uma pandemia de apostas online”.
A intenção pode ser das melhores, mas convenhamos que o governo está atrasado na tomada de providências. Focou-se na regulamentação das casas de apostas, de forma a garantir o pagamento de impostos (correto), e enquanto isso deixou que o Brasil se transformasse num imenso cassino virtual. “Elaborando”, assim, no gerúndio, é coisa para um dia impreciso, talvez bem depois de janeiro de 2025, quando a regulamentação começa a valer.
Foi preciso um escândalo, como o que resultou na prisão da influenciadora Deolane Bezerra por suspeita de lavagem de dinheiro, para o governo desperar. Não significa que todas as bets estejam sob suspeita de envolvimento com o crime, mas será preciso separar o joio do trigo, se é que isso ainda é possível.
Estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que pelo menos 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes no primeiro semestre deste ano por conta de apostas online. De acordo com esse estudo, entre junho de 2023 e junho de 2024, os consumidores gastaram cerca de R$ 68,2 bilhões em apostas, o que representa 0,62% do PIB e 22% da massa salarial.
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