Na véspera, quando preparávamos o Gaúcha Atualidade desta sexta-feira (3), decidimos que seria um programa externo, para mostrar de perto o flagelo que se abate sobre Porto Alegre com a cheia do Guaíba. Dois dias antes, o alerta já era de que essa enchente seria pior do que a de 1941, dado o volume de água que desce dos rios que desembocam no Guaíba.
Combinamos que, além de repórteres espalhados por diferentes regiões, Andressa Xavier ancoraria o programa da estrada, na altura das ilhas, com o equipamento de transmissão dentro de uma camioneta Spin. Giane Guerra iria para o Pepsi on Stage, transformado em abrigo para os moradores das ilhas. E eu iria para o prédio novo da prefeitura, na esquina da Rua João Manoel com a Siqueira Campos. Do gabinete de Comunicação da prefeitura, no 14º andar, teria uma visão privilegiada do Guaíba e poderia conferir como estava a água no Cais Mauá.
Cheguei perto das 7h30min e deixei o carro numa vaga embaixo da marquise, reservada a vereadores que visitam o prefeito. Subi e, da janela, deparei com um cenário assustador: uma forte correnteza que trazia restos de árvores e outros detritos sabe-se lá de onde, os armazéns cercados de água por todos os lados, o gradil que separa a calçada do Guaíba quase que totalmente encobertos. E o muro impedindo que a água chegasse à Avenida Mauá.
Notei que na João Manoel entre a Mauá e a Siqueira Campos havia uma poça d’água. Quando olhei de novo para fazer um vídeo, a poça tinha aumentado.
Perto das 8h40min, quando entrevistei o prefeito Sebastião Melo, uma das pistas da Mauá estava alagada e aquele trechinho da rua da prefeitura tinha sido coberto de água. Fiz o registro e a repórter Kathlyn Moreira entrou para informar que mais para a frente a água entrava com força.
Pouco depois das 9h, uma assessora da prefeitura veio me pedir que tirasse o carro do estacionamento em frente ao prédio e o colocasse num lugar seguro. Como estaria no ar até às 10h, pedi que um motorista tirasse o carro, porque eu não podia descer. A resposta veio assustadora, minutos depois:
— O motorista disse que talvez já não seja possível tirar o seu carro.
Olhei de novo pela janela e garanti que o Yaris aguentaria o tranco. O motorista conseguiu estacionar na 7 de setembro e eu fiz o resto do programa apreensiva, vendo a água invadir a Mauá e a entrada dos prédios próximos ao Centro Administrativo.
Quando o Atualidade terminou, só tivemos tempo de recolher os equipamentos de transmissão e descer na última viagem do elevador, que seria interditado logo em seguida porque começava a entrar água na casa de máquinas. Os servidores remanescentes só esperavam a nossa saída para ir embora.
No térreo, fiz um vídeo da água tomando conta da rua, das vagas de estacionamento e da entrada do prédio. Na Sete de Setembro, quando caminhava ao encontro do carro estacionado, encontrei um grupo de pessoas que fotografava e filmava o avanço da água. Fiz a mesma coisa e saí rumo à parte alta da cidade, preocupada com meu cunhado que mora na Andradas. No início da tarde, ele virou nosso hóspede aqui nos altos do bairro Rio Branco, porque a recomendação do prefeito era que os moradores abandonassem o Centro Histórico.