O que se viu em Porto Alegre na manhã desta sexta-feira (3) atesta que houve negligência na manutenção dos portões que deveriam segurar a água do Guaíba em caso de enchente. Não adianta ter muro para proteger a cidade se os portões estão enferrujados e desgastados pela ação do tempo. Quem responderá pelo trabalho que não foi feito?
Em outra chuvarada, quando o rio não estava nem perto do nível em que chegou agora, a prefeitura fechou os portões (comportas) e descobriu que alguns estavam emperrados. Foi preciso usar máquinas para conseguir fechá-los. Em setembro, outra vez as comportas foram fechadas. O rio bateu no muro, mas não com a fúria deste 3 de maio.
Ali ninguém percebeu que os portões 12 e 14 estavam fragilizados? Os vídeos que o repórter Carlos Rollsing fez da água saindo pela fresta (em um deles) e pelo portão que se abriu inteiro, explica o súbito alagamento no quarto distrito e no centro da cidade. Ainda não se sabe como se comportarão os outros até que o Guaíba comece a baixar, mas a conclusão preliminar é de que o muro está mostrando sua utilidade, desde que os portões sejam adequados.
O edital de concessão do Cais Mauá prevê um sistema mais moderno de contenção da água em caso de enchente, mas até que essas obras fiquem prontas o velho muro tantas vezes excomungado terá de continuar servindo como barreira de proteção da cidade.
As mudanças climáticas, dizem os cientistas, vieram para ficar. Depois de quatro eventos climáticos graves em oito meses, o Rio Grande do Sul em geral e Porto Alegre em particular precisam aprender que basta de improvisos.