A Praça de São Pedro no Vaticano já estava lotada de fiéis de diferentes partes do mundo quando o governador Eduardo Leite chegou para o esperado encontro com o papa Francisco. Não foi uma audiência privada, como costumam ser as de chefes de Estado: Leite ficou na primeira fila na ala reservada a convidados especiais que pedem um encontro com o pontífice. O governador conversou com o Papa em espanhol, para facilitar a comunicação, e o convidou para ir ao Rio Grande do Sul em 2026, ano em que se celebram os 400 anos das missões jesuítas no Estado. O argentino é o primeiro Papa jesuíta da história da Igreja Católica.
Leite entregou dois presentes ao Papa: uma escultura do símbolo das Missões, as ruínas de São Miguel, em pedra de areia, e três camisetas de times de futebol: uma do Grêmio, uma do Inter e outra do Brasil de Pelotas. Brincou com o Papa sobre a origem do nome de sua cidade e falou da proximidade com a Argentina. O presidente da Famurs, Luciano Orsi, entregou uma cuia e uma bomba de chimarrão, mais um livro sobre os 400 anos das missões.
— Foi uma conversa muito gentil, muito amável do Papa conosco. Ele agradeceu pelos presentes e pelo convite e lembrou que já esteve muitas vezes na cidade de Pelotas, onde um tio dele morou — relatou Leite.
Os deputados Adolfo Brito (PP), presidente da Assembleia, Frederico Antunes (PP), Nadine Anflor (PSDB), Silvana Covatti (PP), Carlos Búrigo (MDB), Guilherme Pasin, Cláudio Branchieri (Podemos) e Aloísio Klassmann (União Brasil) participaram da cerimônia.
Antes, o Papa deu duas voltas em meio aos fiéis aglomerados na Praça de São Pedro, que, emocionados, tiravam fotos, faziam selfies e estendiam terços e fotos para que fossem abençoados. Em seguida, sob um toldo no alto da escadaria, dirigiu uma mensagem aos fiéis sobre a importância da temperança, em italiano, português e espanhol. Tradutoras leram o mesmo texto em francês, inglês, alemão e árabe.
Mais tarde, rezou pelos povos de países que sofrem com as guerras, citando especificamente sua preocupação com “a Terra Santa”, Palestina, Israel e Ucrânia. Disse que não podia deixar de pensar nos prisioneiros de guerra, que sofrem com a tortura, e pediu que sejam liberados.
— A tortura é uma coisa brutíssima. Não é humano — sintetizou.
É uma mensagem muito oportuna para tudo, para as relações nas redes sociais, para as relações pessoais, para as relações profissionais e para as relações políticas nesse mundo tão dividido. A temperança ser uma mensagem trazida pelo Papa é certamente algo muito oportuno e muito importante nesse momento.
EDUARDO LEITE
Governador do RS, sobre mensagem do papa Francisco
Na hora de saudar os peregrinos de diferentes países, fez uma saudação especial aos fiéis do Brasil e disse que abençoava a cada um e suas famílias, especialmente as crianças, os idosos e os enfermos.
O encontro com o Papa foi o último compromisso do governador Eduardo Leite na Itália. Às 18h40min (cinco horas a menos no Brasil), a comitiva embarca para a Alemanha, onde tem encontros com empresários e autoridades locais. A viagem termina segunda-feira (22), com uma visita à tradicional Feira de Hannover, que tem forte presença de empresas gaúchas.
Confira a íntegra do que disse o Papa Francisco
"A virtude da temperança assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade. A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração.
No mundo onde tantas pessoas se orgulham de dizer aquilo que pensam, a pessoa temperante prefere pensar o que diz. Sabe que há um tempo para falar e um tempo para calar, mas tanto um tempo como o outro exigem a medida certa. Por isso, a qualidade da pessoa temperante é o equilíbrio. Uma qualidade hoje tão preciosa como rara.
De fato, no nosso mundo, tudo nos empurra para o excesso, enquanto a temperança faz comportar-nos com discrição, humildade e mansidão.”
Artista regional
A peça entregue ao Papa foi esculpida por Regesmar Martins, conhecido como Diri Martins, de São Nicolau, que doou a escultura para o governo do Estado. O presente foi feito a partir de pedra de areia, material abundante na região das Missões.
O artista faz esculturas desde a infância. Primeiro, fabricava os próprios brinquedos. Na adolescência evoluiu para a arte religiosa e há 30 anos vive desse artesanato.
Caminho das Missões
Fazer do Caminho das Missões uma versão sulamericana do Caminho de Santiago é um sonho dos prefeitos dos 26 municípios da região e do secretário de Turismo, Luiz Fernando Rodrigues, que acompanha o governador na viagem. Para popularizar essa rota, a expectativa é de que o para Francisco conceda uma indulgência, espécie de certificação de que esse é um caminho de turismo religioso. O tema foi assunto em uma das mesas do jantar oferecido pelo embaixador Renato Mosca, na qual estavam Rodrigues, a segunda secretária da Embaixada do Brasil para a Santa Sé e o ex-prefeito de Santo Ângelo, Mário Nascimento, que acompanha a missão pela Famurs. A conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e as conferências episcopais dos demais países do Mercosul têm de aprovar.
Embaixador da imigração
Para quem estranhou a ausência da secretária da Cultura, Beatriz Araújo, na comitiva do governador que trata das comemorações do bicentenário da imigração alemã e dos 150 anos da italiana, uma explicação: apesar de vários eventos serem realizados por sua pasta, a coordenação está com outro secretário.
O governador escalou o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Fabrício Peruchin, para comandar a comissão especial dos festejos da imigração italiana. É nessa condição que Peruchin integra a comitiva oficial. O secretário, formado em Direito, fez mestrado na Itália, fala italiano fluentemente e é uma espécie de embaixador para esses assuntos.
Na Secretaria da Cultura, o descontentamento com a exclusão é generalizado entre os que estão envolvidos com os eventos.