Uma das mais desejadas do mundo pelos diplomatas que chegam ao topo da carreira, a embaixada do Brasil em Roma, integrante do chamado circuito Elizabeth Arden, carrega o peso da história em suas vigas. Propriedade da família Pamphili (em italiano se escreve Pamphilj), que deu à Igreja Católica o papa Inocêncio X, o Palazzo Pamphili foi vendido ao governo brasileiro em 1960. Desde 2019, a embaixada funcionava no prédio, mas alugava apenas uma parte.
Hoje, são 16 mil metros quadrados, que abrigam a residência do embaixador e vários escritórios da diplomacia brasileira. O prédio começou a ser construído há mais de 500 anos e estava bastante deteriorado quando o presidente Juscelino Kubitschek o comprou pela barbada de 900 milhões de liras, o equivalente a US$ 5 milhões. Hoje, valeria algo como 265 milhões de euros, sem contar a fortuna incalculável em obras de arte.
Enquanto o governador Eduardo Leite fazia reuniões fechadas à imprensa, na terça-feira (16), os jornalistas que cobrem a viagem puderam conhecer, filmar e fotografar os salões e detalhes da decoração. A residência do embaixador é o que se poderia chamar pelo clichê de “coisa de cinema”. Com as janelas frontais abertas para a Piazza Navona, oferece uma vista privilegiada de um dos pontos turísticos mais visitados da Itália.
As escadas de mármore que levam ao segundo piso têm degraus bem mais baixos do que os convencionais. Explicação? O papa Inocêncio X, quando ainda era conhecido como Pamphili, entrava no palácio a cavalo.
A primeira sala é repleta de quadros, esculturas e afrescos no teto de madeira. Sobre uma mesinha de mármore na entrada destacam-se um vaso de tulipas amarelas, outro de orquídeas brancas e três porta-retratos. Em uma das imagens o embaixador Renato Mosca está com o presidente Lula, mas o que mais se destaca é uma foto oficial da ex-presidente Dilma Rousseff com a faixa presidencial e a seguinte dedicatória: “Para o Mosquinha, dorminhoco do bem, um abraço e um grande carinho da Dilma”.
Seguem-se outros dois salões, decorados com tapetes persas, sofás coloridos, quadros antigos e modernos, esculturas, vasos e lustres, todos com uma história que a responsável pelo patrimônio, Roseli Sartori, detalha com entusiasmo porque tem as informações na ponta da língua.
Roseli mostra um quadro com o nome das empresas e pessoas físicas que contribuíram com 300 milhões de liras, no início dos anos 1960, para reformar o prédio. Ali estão Alfa Romeo, Olivetti, Fábrica Nacional de Motores, Alitalia, Panair do Brasil, entre outras. E sobrenomes conhecidos, como Moreira Salles, Scarpa, Matarazzo e Paes de Almeida. Detalha que os móveis foram todos desenhados pelo arquiteto Sérgio Rodrigues, o mesmo que projetou o mobiliário dos palácios concebidos por Oscar Niemeyer e Lucio Costa em Brasília.
O salão de banquetes, onde são recebidos os chefes de Estado e convidados especiais do embaixador, tem uma mesa de 20 lugares, com cadeiras azuis estofadas, quadros, esculturas e objetos de propriedade da embaixada ou do embaixador. É comum que cada ocupante do palácio dê seu toque pessoal à decoração. Há ainda dois salões que, por si, merecem a definição de obras de arte. O Palestrina, com um tapete persa e um piano de cauda, sempre foi um salão de concertos. Sem o tapete, poderia ser um salão de baile como os descritos em Anna Karenina.
No outro, a Galeria Cortona, onde o governador foi recebido e cumpriu agenda por mais de quatro horas, destacam-se os afrescos do pintor Pietro Cortona, que cobrem os 33 metros do teto. As pinturas retratam figuras da mitologia, como Enéas, filho de Vênus, e histórias que conhecemos dos livros.
Na impossibilidade de descrever cada peça que faz do Pamphili, uma embaixada com jeito de museu, fiz um vídeo mostrando um pouco desse orgulho do Itamaraty.
Fazer um passeio guiado pelo Palazzo Pamphili é possível: às segundas e quartas-feiras, às 15h, as portas são abertas para os interessados que conseguem fazer a inscrição no site do Itamaray. A entrada é franca, mas sempre há fila de espera.