Cada vez que vou a Passo Fundo, volto com a certeza de que o Rio Grande do Sul tem jeito. Não foi diferente na semana passada, quando lá estivemos para apresentar o Gaúcha Atualidade direto do Festival de Ciência, Inovação e Tecnologia (Fecit). Se você pensou em Fecit como uma South Summit de jovens de All Star falando de suas startups, errou feio. Eram crianças e adolescentes de escolas municipais apresentando suas descobertas, invenções e propostas para um mundo mais sustentável.
Tenho acompanhado há algum tempo os projetos de Passo Fundo na área de educação, porque desde a primeira conversa com o prefeito Pedro Almeida e com o secretário Adriano Teixeira senti que ali estava sendo plantada uma semente para o futuro. São tantos que aqui não há como detalhar, mas sou testemunha do empenho em fazer uma escola pública de referência, uma escola em que as crianças não tenham medo da matemática nem de mandarim e que mesmo aquelas dos bairros mais pobres tenham o direito de sonhar com uma vida diferente da que têm seus pais.
Acompanhei a emoção dos jovens selecionados para viajar à Suíça no próximo ano como havia acompanhado o entusiasmo dos que neste ano foram a Barcelona, em um projeto de contato com cidades verdadeiramente educadoras. Nunca ouvi nesses contatos alguém dizer que crianças pobres não aprendem, como se diz em outras cidades para justificar os fracassos na escola pública. Aprendi com a professora Esther Grossi que todos são capazes de aprender, mas é claro que precisam estar alimentados e para isso existe a merenda escolar.
O festival era organizado pela prefeitura, mas tinha o apoio do setor privado, e aqui entra um ponto crucial. Passo Fundo tem empresários modernos, que identificam a necessidade de preparar desde a pré-escola os profissionais do futuro. Entre eles está Erasmo Batistella, de quem já falei aqui por ter comprado uma escola quebrada, o centenário Instituto Educacional de Passo Fundo (IE), da Avenida Brasil. Poderia ter comprado para demolir e transformar o terreno em um empreendimento imobiliário, mas o fez para garantir que o IE continuará a ser uma escola.
Batistella, um visionário que aos 20 e poucos anos decidiu investir em biodiesel, quando pouco se apostava em energias renováveis e tem plena consciência de que é preciso reinventar o futuro agora se quisermos salvar o planeta. O dono da Be8 (a antiga BSBios mudou de nome para incluir o símbolo do infinito na sua identidade visual) tirou quase três horas do seu tempo para nos apresentar a empresa e, depois, para mostrar as obras de renovação do IE. Só não é uma escola 100% nova porque manteve a fachada do histórico prédio Texas.
Batistella nos conduziu por uma viagem ao futuro, agachando-se entre os andaimes para mostrar o sótão onde ficarão os laboratórios, aspirando cimento nas salas em construção e sorrindo para mostrar o que já está pronto: as quadras de esportes, o refeitório onde almoçamos a comida de alunos e professores, as salas de aula com móveis renovados.
Podem chamar de bairrismo, porque Passo Fundo é a referência da região onde nasci, mas tenho motivos bastante concretos para admirar a cidade e os arredores, não apenas porque a paisagem de planalto com aquele horizonte infinito é uma das minhas aquarelas preferidas. É pelas pessoas que fazem a diferença.