Quanto tempo deve o governante ficar de luto quando ocorre uma tragédia no seu Estado? O governador Eduardo Leite está sendo crucificado nas redes sociais por ter ido ao show de Ivete Sangalo em São Paulo, com o namorado Thalis Bolzan, enquanto os municípios atingidos pela enchente do Rio Taquari estão em estado de calamidade pública.
Os ataques vêm da esquerda e da direita, com maioria entre os admiradores do presidente Lula, que se perguntam qual seria a repercussão se fosse Janja em seu lugar.
Pergunta retórica e bobinha. Janja não iria no show de Ivete neste fim de semana porque o presidente Lula estava internado no Hospital Sírio Libanês, e não por causa das enchentes no Rio Grande do Sul ou da seca no Amazonas.
A tragédia do Vale do Taquari vai completar um mês na quarta-feira. Leite dirigiu o foco do governo para as enchentes desde então. Cancelou a viagem que faria à Europa naquele fim de semana. Vestiu o colete da Defesa Civil e foi a campo levar conforto aos desabrigados.
Esteve nos municípios atingidos incontáveis vezes. Liberou recursos, coordenou as operações de salvamento, mandou o vice-governador Gabriel Souza transferir seu gabinete para o Vale do Taquari, acompanhou os ministros do governo Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin quando estiveram no Estado. Na sexta-feira, foi a Lajeado receber a primeira-dama Janja da Silva, que acompanhou a comitiva de ministros representando Lula.
A propósito, essa representação é legítima. No Brasil, a tradição é as primeiras-damas atuarem na área social. Janja não tem um papel específico no governo e, nesses primeiros nove meses, sua presença foi notada por acompanhar Lula em todas as viagens, que não foram poucas. Janja foi criticada por um vídeo em que, na chegada a Índia, logo depois da enchente, disse que tinha vontade de dançar. Também aí foi vítima do tribunal das redes sociais.
As críticas por ter vindo ao Rio Grande do Sul são de quem não gosta dela, detesta Lula ou não suporta os dois. Janja não estava substituindo Geraldo Alckmin, o vice-presidente, mas ocupando o vazio deixado pela ausência física de Lula, que anunciou medidas para socorrer os atingidos, mas ainda não veio ao Estado.
Voltando a Leite, o governador foi a São Paulo com seu próprio dinheiro. Não prejudicou ninguém por ir a um show no seu dia de folga. Está sendo vítima do tribunal das redes sociais, que condena sem direito de defesa.
Se o problema de Leite é agilidade na liberação de recursos, que seja cobrado. Se as medidas adotadas são insuficientes, que se aponte o que precisa ser feito e ainda não foi. Condenar o governador ao luto eterno, sem poder assistir a um show de música brasileira, é politicagem barata. Nada além.