É um escândalo, sem dúvida, o que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fez no governo de Jair Bolsonaro, monitorando, sem autorização judicial, políticos, jornalistas, advogados e até ministros dos tribunais superiores. A prática, detalhada pela Polícia Federal depois de uma minuciosa investigação, faz lembrar o tempo do Serviço Nacional de Informações, o SNI, que espionava quem era considerado inimigo da ditadura.
A Polícia Federal concluiu que o sistema adquirido em Israel ainda no governo de Michel Temer foi usado mais de 30 mil vezes na gestão de Bolsonaro, mas só em 1,8 mil casos foi possível detalhar o que fizeram os arapongas.
Dois agentes da Abin foram presos na operação desta sexta-feira (20) e cinco servidores, incluindo o número 3 da agência, foram afastados por determinação do ministro Alexandre de Moraes. A PF apreendeu US$ 171 mil em dinheiro vivo em endereço ligado a um dos comandantes da Abin.
Um dos suspeitos de má utilização do sistema para espionar adversários de Bolsonaro é o ex-chefe da Abin, Alexandre Ramagem, que o presidente tentou emplacar na chefia da Polícia Federal, um dos motivos do desentendimento com o então ministro da Justiça, Sergio Moro. São duas as explicações para o uso indevido dos equipamentos que deveriam monitorar criminosos e não jornalistas e supostos adversários do governo: a certeza da impunidade e a convicção de que Bolsonaro seria reeleito e todos os escândalos acabariam esquecidos. Isso explica o desespero de Bolsonaro quando perdeu a eleição e percebeu que as iniquidades cometidas no seu governo seriam descobertas.
O problema não é a compra do programa de Israel, mas o mau uso pela agência que deveria ser de inteligência.
ALIÁS
O sistema israelense comprado pela Abin monitorava a localização de pessoas, sem autorização judicial, por meio do telefone celular. O que ainda não se sabe é que uso foi feito dessas informações ou onde se pretendia chegar com elas.