As excursões ao Ceará, a Pernambuco, à Dinamarca e à Finlândia para ver como funciona um sistema de educação que dá certo já podem ser suspensas. Mais simples e mais barato ir a uma das cinco escolas de Ensino Médio do Sesi-RS e ver como é possível reproduzir no Estado e nos municípios uma escola praticamente sem evasão. Uma escola em que os alunos terminam o Ensino Médio craques em robótica, fluentes em inglês (mesmo que cheguem monoglotas no primeiro ano), têm bom desempenho no Enem — embora esse não seja o foco — e surpreendem os professores na universidade pela maturidade e pelo conhecimento.
Visitei o campus de Gravataí nesta semana, que também abriga a Educação Infantil, EJA, contraturno escolar e iniciação às artes, mas direcionei o foco para o Ensino Médio, que é o grande desafio dos gestores públicos. Com ampla área verde e uma arquitetura pensada para tornar o ambiente atraente e sustentável, é uma escola voltada para filhos de trabalhadores da indústria, mas que também recebe alunos da comunidade. Hoje são 1,2 mil alunos, sendo 400 do Ensino Médio.
Antes que alguém pergunte como são os salários, a resposta é "sim, os professores são bem remunerados", mas esse está longe de ser o único motivo para explicar a empolgação e o comprometimento.
O modelo, construído a partir de visitas a escolas de referência em diferentes países, empolga professores e alunos porque conseguiu derrubar a ideia de que a escola é chata. Essa não é. A autonomia dos alunos é construída dos detalhes. No início, nos intervalos e no fim do turno (que é integral), não se ouve sineta ou campainha. Os estudantes sabem que é hora do intervalo ou de ir embora. As turmas não têm uma sala de aula: movem-se de acordo com a disciplina. As salas são equipadas de acordo com a área do conhecimento e mobiliadas de forma a estimular o trabalho em grupo. O que se aprende na teoria é mostrado na prática, em diferentes laboratórios.
Os alunos também são preparados para o trabalho, com os cursos oferecidos pelo Senai como parte do currículo. A diretora da escola de Gravataí, Bianca Visentin, deixa claro que o foco da escola não é o Enem: é preparar o aluno para os desafios do século 21. O bom desempenho no Enem e no vestibular é consequência.
Os estudantes trabalham por projetos e são instados a buscar soluções para os problemas da comunidade. Nesses projetos, aplicam conhecimentos de diferentes áreas e, sob orientação dos professores, apresentam propostas inovadoras. Parte do que os alunos produzem nas unidades de Pelotas, Gravataí, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Montenegro é apresentada ao público na mostra Sesi Com@ciência, que neste ano será nos dias 10 e 11 de outubro, no Centro de Eventos da Fiergs.
Impressiona também a fluência verbal, fruto da forma como são trabalhados os conteúdos da área de linguagem e ao estímulo à leitura. Nessas escolas, livros não estão ali para decorar estantes: há um bibliotecário à disposição, para orientar o trabalho e indicar os livros adequados para cada faixa etária. Todos os alunos são estimulados a tocar pelo menos um instrumento e a participar de peças de teatro.
Essa combinação entre o conteúdo pesado (com uma das maiores cargas horárias de matemática do Estado) e o lúdico garante o equilíbrio para não tornar cansativo o turno integral. A prova de que funciona está no sorriso dos alunos e na coleção de troféus que a escola acumula.
ALIÁS
Mesmo que uma escola não tenha os recursos que o Sesi tem para criar escolas modelo, a metodologia pode ser replicada por meio do Instituto de Formação de Professores, que começou a funcionar neste ano e que pretende ser um centro de disseminação do conhecimento.
Em sintonia com o mercado
Uma das frases mais ouvidas na Expointer, ditas principalmente por líderes das indústrias de máquinas agrícolas, foi que sobram empregos e faltam profissionais qualificados em suas regiões.
É com esse olhar que a Fiergs está ampliando o número de escolas Sesi no Estado. Além das cinco já existentes, foram iniciadas as obras das unidades de Canoas e Lajeado. Outras quatro serão construídas em Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Novo Hamburgo e Santa Cruz do Sul, com investimentos de R$ 300 milhões. A de Pelotas será reformada.
O superintendente regional do Sesi-RS, Juliano Colombo, aposta na parceria com os municípios para formar professores capazes de promover a esperada revolução na educação.