De onde o presidente Lula tirou a ideia de que seria positivo para o Brasil os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) serem secretos? Foi uma alucinação, um excesso de sinceridade ou uma confusão entre voto secreto e sessões transmitidas pela TV? O cidadão brasileiro tem o direito de saber como votam os ministros do STF. Qualquer ideia de decisão nas sombras deve ser repudiada com veemência, a começar pelos próprios ministros.
Lula tem um motivo para estar incomodado: as críticas que vem recebendo dos companheiros de esquerda por ter nomeado o advogado Cristiano Zanin para o Supremo. Nas votações do primeiro mês como ministro, Zanin mostrou-se tão conservador quanto os indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, André Mendonça e Kássio Nunes Marques.
Agora terá que escolher quem vai substituir a ministra Rosa Weber, que se aposenta por completar 75 anos, e vê crescerem as pressões pela nomeação de alguém de perfil mais progressista.
O presidente deveria conhecer o pensamento de Zanin, com quem conviveu intimamente nos últimos anos, na relação cliente-advogado. Logo, não deveria se surpreender com os votos. O problema é que a solução proposta por Lula é os ministros adotarem o voto secreto e só se divulgar o placar ao final da votação. E o cidadão que lute para saber como votou cada um.
É verdade que com as transmissões ao vivo pela TV, a vaidade subiu à cabeça de alguns ministros, que usam os votos para fazer malabarismos retóricos, como se estivessem no palco. A transmissão pela TV tem sido questionada, mas é mil vezes preferível ter transparência demais do que de menos.