Natural de Não-Me-Toque, no norte do Estado, o procurador Ângelo Gräbin Borghetti tomou posse nesta terça-feira (26) como chefe do Ministério Público de Contas (MPC) do Rio Grande do Sul para o biênio 2023/2025. Seria um ritual comum de passagem de bastão, não fosse o fato de Borghetti ter a missão de substituir Geraldo da Camino, que marcou época ao comandar a instituição por 15 anos.
Vindo do Interior, o novo procurador-geral do MPC desembarcou de mala e cuia em Porto Alegre em 2000 para cursar Direito na UFRGS. Graduou-se e atuou na Defensoria Pública e no Tribunal de Justiça antes de ingressar no MPC, em 2009, como procurador concursado.
Aos 41 anos e cabelos ainda pretos, Borghetti destacou em seu discurso que é filho de um casal de professores estaduais e que, desde cedo, aprendeu com as dificuldades financeiras enfrentadas pela família. Por sua origem, afirmou que quer priorizar o cuidado com a eficiência dos gastos públicos na educação.
— Dentro da sociedade gaúcha, os órgãos de controle devem batalhar para que cada criança e adolescente, por mais simples que seja a sua origem, tenha o direito de sonhar e a oportunidade de buscar a carreira que desejar.
Em seu último discurso, da Camino observou que "mundo era outro há 15 anos". Em abril de 2008, a crise financeira ainda não era levada a sério, os smartphones eram novidade e os almoços em família incluíam até a política entre os assuntos, "sem que os talheres precisassem ser de plástico".
O procurador, que chegou a representar pedindo o aprofundamento de investigações relacionadas a autoridades de alto escalão no Estado, como a então governadora Yeda Crusius, disse que precisou adotar "medidas duras e atitudes firmes" ao longo da trajetória, sob pena de prevaricar.
— As alegrias, na minha atuação, não as tive ao representar contra membros de instituições ou requerer investigação patrimonial de altas autoridades, nem ao participar de operações policiais de combate à corrupção. O recurso que preservou os cargos públicos de servidores admitidos por concurso pelas cotas raciais e o parecer que salvou a aposentadoria da professora de Ensino Fundamental numa pequena cidade do Interior, esses, sim, me fizeram felizes — avaliou da Camino.
A despeito das divergências com o agora ex-procurador-geral do MPC, a mais recente delas exposta no processo que liberou a venda da Corsan, o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Alexandre Postal, fez prolongados elogios a da Camino e ressaltou que a Corte confia em Borghetti.
— Eu virei presidente do tribunal e o doutor Geraldo foi um parceiro leal, braço-direito, meu confidente, alguém com quem aprendemos a conviver, cada um com os seus pensamentos — elogiou Postal.